A arte de incomodar

O filósofo é um xaropão por natureza. Sempre faz perguntas "ingênuas", desconfortáveis ou excêntricas. Uns dizem, esse sujeito parece uma criança; outros, por sua vez, que quem faz perguntas tão tolas não bate bem da cabeça. Quase sempre quando alguém pensa em filosofia, pensa na cachaça ou cervejinha no bar. O tal filósofo do bar faz perguntas que não faz sentido perguntar. Uma cachaça ajuda a se soltar, sendo justo com o pinguço, né, não? No bar, não há religiosos ou cientistas, mas há filósofos. Lá todos querem ser filósofos porque o único autorizado a perguntar "esquisitices" é o filósofo. Um exemplo: no mesmo bar estão o cientista, o religioso e o filósofo. Os três escolhem um tema para papear entre uma cerveja e outra. A pobreza é o tema escolhido. A pobreza para o religioso é uma oportunidade de praticar a generosidade. Para o cientista é a oportunidade de evocar leis econômicas e políticas. Para ambos, desde que o "mundo é mundo" sempre existiu pobres. O filósofo pergunta: Por que existe a pobreza? Não podemos ter um mundo sem miséria? O filósofo cria as condições para que outros observem com estranhamento aquilo que todos os dias observamos sem qualquer estranhamento.