Nas asas da gaivota

Sobre esta areia pura, salgada de praia isolada observo uma lasciva gaivota, um pontinho só, em movimento ensaiado, lá distante. Dispersa a minha concentração. Concentração em quê? Para onde foi a minha inspiração? Não poderia supor que tantos pensamentos coubessem nesta maleta de imaginação. Montanhas enormes de recordações. Flutuam como a gaivota. Quero jogar tudo nessa imensidão de água azul que neste momento derrapa em mim. Lambuza minha pele, lava os meus poros, só não lava esta saudade, momentos que marcam, entalham esculturas de momentos. Saudade que vem e de repente acampa em mim, monta barraca e demora partir, aliás, nem parte. Poderia ser como a bailarina no ar, o pontinho preto no céu que vem e vai, parece querer falar comigo e voa para o alto novamente. Penso até que é mensageira de um e-mail, de uma carta qualquer, sua. Sinto uma pontinha de inveja, queria voar também. Busco imagens que não chegam. Quero afastá-las da minha mente, medo de torná-las uma idéia fixa. Tento tirar da sacola, o bloco de notas para rabiscar algo, nada me vem; um livro pra ler, falta-me ânimo. Só quero pensar no nada a ver. Insensata esta minha vontade. Gosto de ser louca, sinto prazer. Prazer maluco. Porventura estarei também ficando louca? Quero dar gritos, ouvir ecos e mais ecos, poder gritar ao mundo o meu sentimento louco, impossível. Quero fazer o mar emudecer de horror às minhas louquices, mudar a cor do sol de amarelo para o roxo de tanta vergonha – já pensou um sol roxo?

São tantas loucuras para aventurar, mudar tudo que me rodeia, mudar o vento que toca em mim neste momento, o ar que sou obrigada a aspirar, a cor azul do mar que me faz chorar, a lua branca que se esconde atrás da nuvem esgarçada e até eu mesma. Mudava esta minha alma que cobra a sua presença; mudava você, a sua distância. Largue tudo e volte pra cá para este paraíso encantado. Chega de lutar pela vida. Fuja daí. Deixe esta sela branca de aventais com perfume de remédios. Abandone esta sala de desencantos, de desesperanças, cheia de grades confeccionadas de medo e insegurança. Venha viver feliz aqui, mesmo que por segundos. Não vale a pena perder as esperanças e se render a ela. Destrua essa melancolia de alma.

Um sinal seu e irei buscá-lo nas asas daquela gaivota ou no jato do meu pensamento.

Beijos

Da Juraci

Pirapora MG

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Juraci Oliveira
Enviado por Juraci Oliveira em 27/03/2005
Código do texto: T8137