TOURADAS (respondendo e-mail de meu genro, NANO)

Nano:

É lamentável saber, no cerne, o que se passa numa tourada, a violência do Belo. Não negarei que sinto igual a uma criança ao descobrir que Papai Noel não existe. Conheci as touradas nos filmes cheios de romantismo, guapos toureiros, belas muchachas e platéias enlouquecidas gritando olé! A Espanha é produzida turisticamente a partir também das touradas, como a Argentina pelo tango e o Brasil pelo futebol. No futebol estão os touros humanos tangidos pelas torcidas organizadas e cruéis _ que exigem gols, e pelos religiosos torcedores que choram por seus times mais do que por seus defuntos. Nas pistas da Fórmula 1 estão os lindos touros da velocidade; nos ringues, os pugilistas...

Nós, consumidores de produtos oferecidos pela máquina capitalista, somos agora chamados à responsabilidade que não é totalmente nossa. Temos que nos compadecer da Natureza sim, mas jogam em nossas caras um pecado ensinado. Como tirar da cabeça das pessoas o que vem sendo inculcado há décadas e décadas? Isto é fácil e possível?

A máquina cruel do capitalismo está trabalhando por toda parte, nos mega-shows e eventos, nos carnavais fora de época, na louvação da bebida e até nas igrejas. Até por falar em álcool, você entende porque há uma campanha pesadíssima contra o cigarro ao lado de outra que canta em verso e prosa a bebida? Sinto-me totalmente incompetente para achar uma lógica nisto.

Têm total razão aqueles defensores dos animais, falta lembrar, porém, que os filmes não nos ensinaram e pensávamos, em nossa inocência consumidora, que o touro era apenas dominado pela bravura do toureiro e aquelas espadas eram quase um fingimento, não doíam tanto, atingiam o animal superficialmente. E que depois, os mata-cachorros do cinema o levariam, escondidos de nós, para uma espécie de enfermaria onde o touro tomaria banho e medicamentos e se poria em pé outra vez.

Agora, quando tantos touros foram e são sacrificados, talvez seja um tanto tarde para nos convencer, já estamos doentes. Eu mesma, pela minha parte, apesar de agora compreender e mesmo parecendo absurdo, quando um dia for à Espanha de tantas histórias, a primeira coisa que quero ver é uma tourada.