Você Me Fez Acreditar
Eu não sei se já te falei isso.
Talvez tenha calado, com medo de parecer demais.
Ou talvez tenha dito com os olhos,
num daqueles silêncios que você sempre soube decifrar.
Mas hoje, com a ausência fazendo barulho,
eu preciso te contar:
a sua presença me fazia acreditar em dias bons.
Mesmo depois de tantos dias ruins.
Era estranho — e bonito.
Como se, por alguns instantes, tudo o que doía em mim
ficasse em suspenso, em pausa,
só porque você estava ali.
Não era sobre grandes gestos.
Era sobre a calma que você trazia no olhar,
a leveza com que atravessava os meus abismos,
sem medo de cair comigo.
Era sobre o jeito como sua voz desacelerava meu caos.
Sobre como seu toque sabia curar sem prometer cura.
Você não apagava as dores,
mas me fazia lembrar que elas não eram tudo.
E agora que você não está mais aqui,
fico me perguntando se você sabia.
Se, em algum momento, percebeu
que mesmo nos meus dias mais fechados,
sua presença era como sol rompendo nuvem densa.
Talvez eu nunca tenha dito.
Talvez você tenha ido embora achando que eu era só mais uma.
Mas eu não era.
Eu fui abrigo no meio da tempestade.
Fui afeto onde só havia cansaço.
Fui esperança em forma de presença.
E eu sinto falta disso.
De você.
Do que eu era quando você estava por perto.
Do que nós éramos sem esforço,
como se fôssemos lar uma da outra e não soubéssemos ainda.
Sinto falta até das coisas que me irritavam em você.
Porque agora entendo: até o que incomodava fazia parte do conforto.
Era parte da vida viva.
Da presença que acolhia.
Hoje, só o que ficou foi um vazio cheio de memórias.
E um amor que não sabe onde pousar.
Mas ainda assim…
obrigada por ter existido no meu caos.
Por ter sido aquela pessoa que, sem saber,
me fez acreditar de novo.
Mesmo quando tudo já me fazia desacreditar.