Carta a uma Sobrinha

Gatinha linda,

Agradeço o e-mail. Bem espirituoso.

Dizer que o mundo é complexo parece lugar-comum. O mundo é muito comprido. Mas pode caber na mão de uma pessoa com poder de acionar o botão da bomba com um caralhão de megatons. E tudo se explodir.

Deus está realmente presente em tudo. Como está até nas pessoas que o encaram de uma forma diferente, isto é, de uma forma que não fomos habituados a entender. Deus para alguns pode ser a lua, o sol, o trovão. Para muitos outros significa, além de tudo o que a gente imagina que pode ser, significa o AMOR.

Você já perdeu três minutos da sua vida pra tentar definir o que é o amor? É bem possível que você leve a vida inteira e não consiga chegar a uma definição precisa. Ou pelo menos aceitável. É bem provável ainda que você fique com o caralhão (parece agressivo, não é? Vamos mudar pra "montão"...), fique com o montão de significados ou assertivas encontradas em inúmeros livros ou proferidas por eminentes sábios, estudiosos, humanistas, escritores, poetas, jornalistas ou sei lá o quê. Talvez você acabe concluindo que se trata do substantivo mais abstrato que existe. E por isso mesmo dificílimo de se definir. Talvez seja mais fácil senti-lo. Mas como sentir algo que você não sabe bem o que é? Saudade você sabe; tristeza você reconhece; a alegria nos excita. Mas o amor... ele é TUDO! Não haverá o perigo de se confundir com o NADA? Blasfêmia, heresia. Esse teu tio é metido a maluco. Ou é um filósofo de araque. Não afirmei nada. Apenas perguntei. Trata-se de provocar a exercitação do seu raciocínio.

Será que uma religião, apenas uma – quando sabemos que há muitas outras no mundo, além das várias tentativas –, poderá se resumir na palavra AMOR? Por que o trovão, o sol ou a lua não morrem também para nos salvar?

É claro que tudo isso é muito pessoal. Não há a pretensão de que você acredite nessas bobagens. É coisa de virginiano: adora

especular sobre aquilo que nunca vai entender direito, ainda mais

quando não tem porra nenhuma pra fazer.

Beijos mil,

Rio, 20/12/2005

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 25/02/2008
Reeditado em 02/11/2009
Código do texto: T874657
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