O BARBEIRO

Após o fiasco e a decepção que foi sua tentativa de se tornar famoso na capital mineira, o caipira Jojoca resolveu voltar ao Triângulo Mineiro. Só que decidido e consciente de não poder mais regressar à terra natal - Dolearina -, pois o município não ficava muito longe da cidade de Estrela do Sul. Procurava evitar ao máximo, seguir por aquelas bandas, evitando assim, um encontro inesperado com Nicássio. Devido à história com a esposa do dito cujo, Jojoca por muito pouco não sucumbiu acometido por um assassinato. Decidiu rumar para a cidade de Araguari, que era considerada a capital do café e do maracujá e repleta de pessoas hospitaleiras. Assim que chegou, hospedou-se em uma pensão localizada no coração da cidade. Após se instalar, saiu pelas ruas sem destino certo. Terminou por entrar numa pequena barbearia. Ficou surpreso e alegre ao deparar com o velho e saudoso amigo Nestor.

— Nestor, que alegria encontrá-lo aqui! Esse mundo é mesmo muito pequeno.

— Ora se não é o meu bom amigo Jojoca, o contador de histórias! Como vai?

— Bem. E você Nestor, o que tem aprontado?

— Eu vou vivendo como Deus quer. Pelejando daqui e dali para ver se melhora alguma coisa.

—Fiquei sabendo que você foi tentar a sorte longe. Lá na capital, é verdade? Tocou muitas modas de viola, lá para aquele povão?

—É Nestor. Nem te conto como foi.

—Por quê?

—Foi uma frustração e tanto. Os cara da rádio querem só prestigiar figuras conhecidas. Artistas de renome.

—Que pena! Mas você desistiu cedo demais Jojoca.

—Que nada. Eu agora vou tentar a sorte aqui em Araguari.

—Por falar nisso, Jojoca, você não voltou mais à Estrela do Sul.

—Nem pensar Nestor! Você não ficou sabendo o apuro que passei lá?

—Não! Que apuro?

—Bem. Depois de muitos meses após o ocorrido com aquela mulata, estava eu vagueando pela cidade quando resolvi entrar em uma barbearia. Acomodei-me na cadeira e disse ao barbeiro que gostaria de aparar os cabelos e fazer a barba.

—Pois não! – respondeu ele carrancudo-.

—O homem colocou a toalha em volta do meu pescoço e começou a me reparar com certa desconfiança. Apanhou o pincel cheio de espuma aplicando em meu rosto vagarosamente. Depois, apanhou a navalha reluzente e afiadíssima. Parou em frente a mim mirando bem os meus olhos com uma feição nada amigável.

—Eu achei aquela atitude um pouco estranha. Afinal, eu não era nenhum bicho horroroso, muito pelo contrário! Encarei o fulano e, espantado, imediatamente me lembrei que aquele ser ali parado em frente a mim, era nada mais, nada menos que o Nicássio. Ele havia mudado de profissão e, justamente eu, que nunca imaginei reencontrá-lo, agora estava ali, nas mãos daquele enfurecido corno.

—Virgem Maria, Jojoca! O que você fez?

—Eu fiquei estático no momento. Até que o homem me disse entre dentes:

—Sabe nas mãos de quem você está?

Dei um pulo da cadeira gritando: NAS MÃOS DE DEEEUS!!!! E saí em disparada derrubando pentes, escovas, frascos de perfumes e tudo que estava em minha frente.

—E depois?

—Depois?! Depois eu corri pela ladeira abaixo Nestor!!!

—Mas Nestor. O que me divertiu muito, foi quando olhei para trás e vi que a mulher do barbeiro, uma mulata matrona o havia agarrado pelo colarinho e pelos fundilhos das calças.

—Verdade?!

—Sim. O barbeiro de navalha na mão gritava colérico:

—Me deixe extripar o maldito! Marisa.

—Se assossegue homem! Vamos que você mate o danado. Quem é que vai manter a casa se você for preso?

—Foi muito engraçado Nestor! O barbeiro com as perninhas suspensas no ar, esperneando e se contorcendo todo. Parecia um sapinho balofo fazendo mímica.

—É Jojoca, você correu um tremendo risco. Se o homem te pega!

—Deus me livre! Mas não foi dessa vez que eu me estrepei.

—Jojoca! Você disse que a mulher era gorducha. Mas a Marisa não era bonita e apetitosa?

—Era Nestor. Só que com o passar dos anos, o tempo se encarregou de destruir aquela formosura.

—Ainda bem que não fui eu a desposá-la.

***

Gilberto Feliciano de Oliveira
Enviado por Gilberto Feliciano de Oliveira em 11/07/2008
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