O SURUBIM

Quem conhece sabe que logo após algumas chuvas, na cabeceira e afluentes do Rio Pindaré e, quando este aumenta a vazão, os peixes sobem para a desova.

Já há algum tempo os peixes vem diminuíndo em decorrência dos excessos praticados pelos homens que vivem à sua margem e até mesmo por outros que vem de outros locais para pescar.

Embora o rio seja pequeno no local onde o fato ocorreu, é comum cardumes de várias espécies e especialmente de surubim. Naquele dia, quando soubemos da notícia de que havia um cardume perto do local onde pescávamos, resolvemos arriscar e logo após o almoço, seguimos rumo ao rio.

Estávamos em quatro; Eu, o Pedro, o Marcelo e o Deoclides. Chegamos ainda bem cedo à sede da fazenda e após as recomendações de praxe, a esposa do gerente da fazenda, se dispôs a preparar um frango caipira para nosso jantar, por isso aproveitamos as tripas deste para usar com isca.

Além das tripas devidamente limpas, tínhamos também um coração de boi, que havíamos comprado numa das cidades que passamos no caminho da fazenda.

Já passava das quatro quando seguimos rumo ao rio que ficava um pouco mais de duzentos metros de distância da sede da fazenda.

A canoa já estava no local totalmente equipada, mas, por ser pequena, somente três iriam embarcados. Assim sendo, resolvi ficar pescando sobre uma velha ponte caída, que serve de apoio, além de ser um excelente local para pescar.

Os outros devidamente equipados, com a caixa térmica cheia de cervejas geladas, embarcaram na canoa e subiram lentamente o rio, já que o motor usado naquele dia era apenas um motor elétrico. Eu fiquei solitário sobre a velha ponte caída, sob a sombra de um frondoso jatobá que estendia seus galhos sobre o leito do rio.

Já passava das sete da noite eles quando voltaram. Foi naquele momento que fiquei sabendo do que havia ocorrido. Eles não haviam pegado nenhum peixe, por isso haviam empatado comigo, mas, no entanto, tinham uma aventura para contar.

Quando subiam o rio, notaram que alguma coisa estava segurando a canoa e que apesar de acelerar o motor este não conseguia se desvencilhar do obstáculo. Como já haviam bebido várias cervejas, todos estavam além de alegres, muito afoitos. Pedro descobriu que uma corda esticada de uma margem à outra, segurava canoa. Esta fora colocada para servir de sustentáculo a uma rede de um pescador irresponsável.

Querendo acabar com o problema, Pedro pegou a corda que segurava a rede e foi puxando-a lentamente para chegar até a margem e poder cortá-la e assim, evitar maiores danos a natureza e aos peixes. Foi puxando a corda lentamente até perto da margem e ao tentar cortar a corda, desequilibrou-se e caiu n’agua

Devido à queda, tudo que estava consigo foi-se com ele e dentro do rio ficou. Além dos óculos de grau que sempre usava, perdeu também na oportunidade o canivete suíço que usava para cortar a corda e uma lata de cerveja que estava numa das mãos.

Quando voltaram, os outros riam e ao mesmo tempo debochavam do infortúnio do companheiro.

Do que havia perdido, a única coisa de que Pedro reclamava era dos óculos, que havia mandado fazer alguns dias antes e que segundo ele, custara muito caro.

Sem nada pescarmos, após novas cervejas geladas e do delicioso do frango caipira, voltamos para casa com ar de frustração por não havermos pescado nenhum surubim.

Na semana seguinte, o gerente da fazenda avisou que outro cardume de peixes estaria subindo o rio e mais do que depressa, organizamos outra turma e fomos ao Pindaré tentar mais uma vez. Como se aproximava o natal, era plano, assar um surubim para a ceia natalina.

Desta vez por estarmos somente em três, subimos o rio e depois de um pouco mais de uma hora, meu sobrinho pegou um surubim de mais ou menos uns dez quilos. Embora tenhamos tentado ainda por longo tempo, somente esse foi o troféu que trouxemos para casa.

Quando eu abri o peixe para limpá-lo, a primeira coisa que vi dentro deste, me causou espanto e ao mesmo tempo serviu de motivo de riso e conversas por muito tempo.

Os óculos que o Pedro havia perdido na semana anterior, havia sido engolido pelo surubim. Depois de limpar os óculos, ao chegar à cidade meu sobrinho o devolveu ao seu legítimo dono, que mesmo reconhecendo-o não queria acreditar no acontecido.

Apesar de o fato ter sido presenciado por várias pessoas, poucos acreditam que um surubim tenha fechado as hastes dos óculos e o engolido, para devolver ao seu dono uma semana depois.

Embora pareça apenas mais uma estória de pescador, é verdade e sempre há alguém me perguntando se o peixe era míope.

16-02-09 -VEM

Vanderleis Maia
Enviado por Vanderleis Maia em 03/04/2009
Reeditado em 03/04/2009
Código do texto: T1520383