EU COMO DOIS

Nicolau, muito barrigudo, que comia tudo o que via pela frente. Não se importava com nada. Dizem que até capim ele já comeu cozido e de sobremesa comeu tripa de porco frita, com melado, angu, queijo, doce de leite, laranjas e limão.

Josias, seu irmão mais novo, seguia a mesma tradição de Nicolau, porém comia muito mais, mas preferia alimentos leves, saudáveis, cheio de vitalidade e muita proteína.

Certo dia, como os dias de costume, os dois foram almoçar e, já sabem, que tanta comilança e ciúmes que acabaram mal para os dois. Depois de tanto comer, Nicolau queria comer dois ovos cozidos, mas Josias queria comê-los também. Não se contentavam em dividir, nem mesmo um para cada um. Então, começaram a brigar verbalmente para comer os ovos.

Sempre o bate boca não da certo, Nicolau foi para cima de Josias, mas escorregou em uma casca de banana e bateu a cabeça no fogão. Em um estalo, Nicolau perdeu os sentidos, ficou semi-morto. Josias chorava pela morte do irmão. Às famílias foi Josias comunicar o falecimento do irmão.

Em pouco tempo, na sala de sua casa, o corpo de Nicolau foi velado. Puseram muitas flores, principalmente rosas, vasos de flores maravilhosas e perfumadas e outros produtos para enfeitar Nicolau.

Na cozinha, uma farta mesa coberta de muitas iguarias para o café dos que iam passar a noite no velório. Tinha de tudo, até mesmo pinga e limão.

Muito tristes, seus amigos conversavam, choravam, contavam casos e acontecimentos da vida de Nicolau, das músicas que ele componha, das cifras musicais, das festas de natal e fim de ano, até mesmo de seu aniversário. Era tristeza na certa.

Josias, em seu canto, mal conseguia falar, a não ser que seu irmão lhe perdoasse, por causa dos ovos. Só lamentava: porque não o deixei comer os dois ovos. Se ele tivesse comido, não estaria morto. Seus amigos diziam que era obra do destino e outras frases mais delicadas e suaves.

Já se passava da meia noite. Uma vela ao pé do caixão de Nicolau, mais outra vela, muito choro, muito gemido, muita emoção.

Com o passar do tempo, um pouco de calor ia aproximando do corpo de Nicolau. Muitos não sentiam, mas Nicolau estava prestes a acordar porque a vela estava queimando seu pé. De repente, ouviram-se chiares de flores e um barulho. Nicolau se punha sentado e gritou mais forte: Eu como os dois ovos... porque eles são meus e estou com muita fome...

Nesta hora, como um vendaval que se passava, não ficou ninguém na sala. Uns corriam pelo quintal, outros pulavam pelas janelas, uns perdiam os sapatos, outros caiam e gritavam, uns puxavam as velas e estas pegavam fogo no tecido de cobertura do corpo do defunto... Fui aquela algazarra.

Assim, Nicolau ressurgia mais uma vez com muito apetite. Não ficou assustado com seu possível velório. Foi direto para a cozinha e fez aquela ceia. Até hoje, quando passo na cidade de Nicolau fico imaginando como aconteceu a festa toda.

Na última vez que estive lá, fiquei sabendo que Nicolau havia falecido de verdade. Foi de acidente de carro. Desta vez, os preparativos foram feitos e os seus amigos ficaram mais atentos e vigiando para que ele não acordasse mais.

JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO
Enviado por JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO em 24/02/2010
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