Causos de Biuzinha

Conta minha amiga, nascida na cidade de Bizarra uma cidade pequena e ainda hoje sem muitos recursos, lá para os lados de Recife, que em sua época de juventude a única diversão que havia por lá era tomar cachaça, cerveja e ir para o arrasta pé. E que predominava o Coroneralismo, ou seja, lá o que não era resolvido no risca faca, era resolvido no tiro. Mandava quem podia, obedecia quem tinha juízo. Certa vez ela e seu grupo de amigos (as), numa bela tarde de domingo, foram para o centro da cidade atrás de diversão, mas acontece que a distância era longa, eles faziam uma caminhada por uma estrada de terra, mato e canavial por todos os lados, por cerca de quase uma hora. Mas para eles a caminhada já era uma diversão, pois iam levando seus bujãozinhos de cachaça e muitos deles já chegavam bêbados a cidade. E ali ficavam até altas horas da noite, dançando, bebendo, namorando.

Certo dia, porém ao voltarem para o vilarejo, no meio da noite, caminhando pela estrada apenas iluminada pela lua, começaram a escutar um barulho de passos no meio do canavial, ficaram apreensivos, mas o grupo continuava junto, os passos foram aumentando até se tornar uma correria pelo meio das canas e do mato, de repente ouviu-se um disparo de arma de fogo e aí pernas para quem te quero. O grupo saiu correndo seguindo a lei de Murici, cada um cuida de si. Alguns pela estrada, outros se embrenharam no mato. E os disparos continuavam. Ela, Biuzinha, uma amiga e um amigo deitaram no meio do mato e ficaram em total silêncio, para não serem descobertos. Na realidade ninguém ali sabia exatamente o que estava acontecendo. Bem os disparos pararam, fez um silêncio e de repente, começaram a ouvir os gritos de um dos amigos que pedia: - Me solta, por favor, eu juro que num fiz nada! Pelo amor de Deus, eu sou inocente, sô trabalhador, nem olho pra mulher casada. Me solte pelo amor de Deus. - Oxi eu juro homi, num fiz nada não.

Ela conta que ficaram apreensivos sem saber o que fazer, mas depois tomaram coragem, de ir à direção dos gritos do amigo. Foram se esgueirando pelo canavial, sem fazer barulho. Os gritos continuavam.

Finalmente eles chegaram ao local e a cena era vamos dizer hilária.

O amigo estava ajoelhado no chão, com o rosto entre as mãos, em prantos jurando que não tinha feito nada, implorando pela vida.

O que ele não sabia é que o que o agarrara pelas costas da camisa, era apenas o galho de uma árvore. Ele estava tão bêbado que não percebeu, achou que alguém o estava segurando.

Até hoje eles não sabem o que foi que aconteceu, ainda bem, que não morreu ninguém.

E até hoje toda cidade ainda ri dessa história.

Que se divertir? Toma uma cervejinha gelada com a Biuzinha e fica ouvindo os causos de Bizarra. Pode acreditar que ela ainda tem o que contar. E o mais delicioso é como ela conta. Outro dia ela veio me visitar e chegou como ela diz: com as tamancas na mão, me dizendo:- Oh peste minha tamanca torô e eu levei o maior estouro no meio da rua. Fiquei sem entender nada, até que vi seu joelho ralado e o tamanco arrebentado.

Torô = arrebentou

Tomar um estouro = eu caí.

Passei mal de tanto ri, ainda bem que ela acabou rindo junto! Depois passamos um remédio no ralado dela e fomos tomar uma geladinha.

Coisas e causos de Biuzinha.

Laura Duque
Enviado por Laura Duque em 22/03/2011
Reeditado em 22/03/2011
Código do texto: T2864203