Ajudazinha

O senhor João Cascudo como o chamavam era um homem correto nos seus deveres de chefe de família, com dois filhos pequenos, casa arrumada um bom emprego e a Dona Josefina que não tinha do que reclamar, ela até já estava acostumada com as tardanças dele nas sextas- feira depois do trabalho, é que ele passava na bodega com os amigos para uma partidinha de dominó.

Prá falar a verdade ela nunca se interessou prá saber onde era a tal bodega, e o tempo foi passando até que um dia a Dona Zefa como ele a chamava, caiu meio adoentada e o Seu João volta e meia vinha com a conversa ; Zefa eu vou arrumar alguém prá lhe dar uma ajudazinha, mas como ele nunca chegava com ninguém ela deixou o caso de lado prá não aporrinhar o marido, já que estava melhorando.

Então Seu João deu para ficar no seu joguinho outros dias da semana, e o caso passaria em brancas nuvens se ele quando chegasse em casa e desse pelo menos aquele cheiro no cangote que era costumeiro, e a deixava toda arrepiada, ela estranhou mas pensou que era porque estava ainda se recuperando.

Passou-se uma semana e na outra, Dona Zefa já estava com a pulga atrás da orelha com o marido, que nem se apercebia dos olhares desconfiados da mulher, e a situação se agravou depois que ela ficou boa e ele nem notou, ai Dona Zefa teve certeza de que ali tinha coisa.

Então a comadre Carmelita que era a madrinha do menino mais novo, numa visita prá saber como ela estava perguntou pelo compadre.

__Minha comadre o compadre esta adoentado também?

__Não comadre, não esta por quê?

__É que o compadre dele me falou que já tem mais de um mês que ele não aparece no dominó, e estava ficando preocupado.

E Dona Zefa com seus botões a murmurinhar; Quer dizer Seu João que o senhor esta no dominó quase todos os dias da semana. Foi ai que ela resolveu entrar no jogo, depois de ficar sabendo onde era a tal bodega ela ficou de butuca a semana toda, mas o homem não viu nem a cor do dominó e ao chegar em casa lá pelas tantas entrava mais quieto que gato ressabiado, e a mulher só para arrematar qualquer duvida se achegava e ele toda dengosa.

__Me deixa dormir Zefa, eu estou cansado!

__Cansado? Ora João quem devia estar cansada era eu, que até agora estou a esperar aquela ajudazinha que você me prometeu.

E virou-se pro lado prá dormir pensativa. Mas deixa estar João, que amanhã é outro dia, ajudazinha né? Logo no outro dia ela deu inicio a uma investigação minuciosa a procura dos mínimos detalhes da vida devassa que seu marido pelo jeito estava levando, e com pouco mais de uma semana já estava sabendo de todo, até do nome da ajudazinha que Seu João tinha arranjado.

Mas junto com a descoberta veio à dor da decepção, embora estivesse com seus quarenta anos não conseguia enxergar nada que aquela quenguinha de vinte anos tivesse que ela não tivesse em dobro, principalmente experiência, até porque ela não tinha nem classe, vivendo num cabaré de quinta categoria.

Dona Maróca que era a dona do cabaré ficou surpresa quando apareceu na porta do estabelecimento aquele monumento de mulher, aquilo sim é que era uma mulher, com quatro ou cinco dessas já dava prá começar a pensar numas férias. E toda solicita foi logo se apresentando e explicando como funcionava a casa, se fosse prá passar a noite era mais caro, mas se era só prá trabalhar e ir embora de manhã era mais em conta, somente uma porcentagem do que ela conseguisse ganhar. Como era meio de semana ela acertou com Dona Maroca que começaria na sexta-feira, e voltou prá casa, ela já sabia que ele só chegaria por volta das vinte e uma horas, assim ela chegou mais cedo para não dar logo de cara com ele, Dona Maroca toda alegre e já sonhando com o bom lucro que ia ter com ela, levou-a ao melhor quarto da casa e mandou que ela ficasse a vontade que iria trazer um bom cliente, um sujeito especial que estava enrabichado por uma das meninas da casa, mas que não chegava nem aos pés dela.

Quando Seu João chegou à velha Maroca foi recebê-lo na porta do cabaré toda cheia de rapapé.

__Seu João, tenho uma novidade prá você, uma mulher como você nunca viu na sua vida.

E ele todo eufórico.

__Se for assim mesmo eu lhe pago o dobro.

Com o calor do verão o quarto ficava sempre com pouca claridade, e como Dona Zefa estava com calor e muito nervosa, tirou a blusa e ficou só de sutiã e saia deitada na cama, quando ele chegou bateu na porta e foi entrando, ela pediu prá ele não acender a luz e sentou-se na cama estava tão nervosa que ele nem reconheceu a sua voz, como ela estava de costa para a porta, só sentiu a mão dele no ombro ele perguntou o seu nome e foi acender a luz para conferir o que a Dona Maroca tinha falado, quando se voltou deu de cara com a sua Zefa de pé no meio do quarto, e boquiaberto só conseguiu perguntar;

__Zefa o que você esta fazendo aqui?

E ela explodindo numa confusão de sentimentos só conseguiu responder;

---Só estou dando uma ajudazinha prá você João.