Uma Horrível História de Amor

Existem pessoas que não sabem como começar a amar... Estas pessoas não sabe que não existem essa forma de início. Acontece e um lampejo de vida, em um ladrilho perdido a alma, cujos cacos voltam a formar o mesmo desenho quando encontram seus pedaços em outra pessoa. É tão ridículo e fabuloso o amor, mesmo nenhum de nós sabendo o que ele é de verdade... Ele é de verdade?

Tantos sabores, tantos aromas e cores, uma vida em abundância de sentidos e sede de todas as peculiaridades fazem “A” encontrar “Z”, e descobrem juntos um universo de letras magníficas e pretensiosas. “A” tinha seu passado um pouco roxo demais, e “Z” precisava de todas as formas do carinho, pois perdera um amor que só se permite uma vez: o amor de um pai. Uma insanidade de um homem de mesma idade deixara a criança órfã, uma família aos casos, uma dor que rasgava os ossos. Necessitando-se, deixam a noite de fagulhas, luzes e barulho repleta de consoantes impuras e deleitam-se do amor que brota gota a gota na alma nada vogal de ambos... É o começo de uma horrível história de amor.

Redescobriram o ainda não descoberto. O fácil, o inacabado. O difícil, o impossível e o apalpável. A vida to da deu um giro e no final de seus 360º parava sempre num abraço e sorriso que de nunca terem visto igual, era totalmente diferente. A felicidade agora tinha nome e sobrenome, carteira de identidade e motorista também (“Z” sem carro pois pegou medo depois de um acidente). Os segundos mais deliciosos, uma vida de gemidos, de carne insaciável, de mais e mais e mais e cada vê melhor surgia nas pálpebras, nas Iris, nos rios de veia aberta. A emoção da paixão num elemento único da vida.

Sabe quando você tem proteção de verdade? Sabe quando você está repleto de nada e um único ser faz o seu tudo? Era assim entre “A” e “Z”. Um tempo de aromas e flores, florestas inteiras que passam na ara de quem ama. Amigos, as peças secundários do xadrez, a louça no alto da estante, a prataria guardada para ocasiões especiais (você ainda lembra o que é especial?), conheceram o novo amor do um e também do outro. Era parte da família. Eram alvo das chacotas, piadas, armadilhas e tapas nas costas. Tinham como destino o endereço dos bem vindos. O Certo, o humano, o abençoado poder divino tinha suas mãos no caso. Sempre o melhor, sempre o sim, sempre a perfeição num toque entrelaço de mãos.

Os princípios de saudade surgiam, e tudo era curado como dádiva. Jantares, brilho, certeza, pedras, castelos, diamantes e uma vida desejada, de faze guerra , de ser podre na mão dos fracos, e ser tanto tanto de causar terrível inveja: havia algo errado, tudo dava muito certo. Desconfiar é para os fracos, é para quem não quer parar nunca, é para quem vive da forma errada! Quer mudar tudo agora em sua cabeça vazia e pequena? “A” e “Z” doaram-se, confortaram-se, era um e outro coisa único e só, não tinha como separar, então não venha co idéias das mais absurdas, porque neste espaço elas não são concretas... Se não tem uma linda história de amor, alguém pra dizer “Te espero” com um suspiro e uma porção bem gorda de ansiedade pare agora, porque o sentimento pode acabar, só no pensar em que ele pode faltar.

Contados de dias após, um ontem que poucos se lembram, um ainda amanhã que muitos não esquecerão, mas um fato que pode ser normal e ao mesmo tempo atípico marcou uma noite de sábado. Passos ao norte e ao leste também, lembrando ondas claras de mar, ela quebra suave e madeixas rasgam a paz que emana das paredes festivas. Dois pares amigos de pupilas se encontram insinuando mais que amizade... Na sequência um toque, posterior uma forte respiração muito perto. Outro par de pupilas se agiganta pra não acreditar. Reage! O primeiro ato de ódio a acabar com comemorações. Não há culpados, não há restos, não há desvios, não há promessas, nem “nunca mais”, há apenas o lamurio e rastros de lágrima. Palavras que deverão ser lembradas, gestos que deverão ser repensados.

Não quebra, é sólido, é de verdade, e não ensaiar, é não precisar combinar porque o amor é certo, os quases viram pra sempre, os talvez são gargalhadas porque na mente a entrega é completa, é a coisa mais inatingível pelo mal. Um momento solitários como muitos. Um gole em seco, um anel novo e mais bonito: o pedido. O aceite. A data.

Só abraços, muitas marcas da vitória que cada um, pronuncia felicita o casal de conto de fadas. As pessoas comenta nas boutiques e nos becos do exemplo que são esses dois. Tardes inteiras de chuva e de sol saboreando iguarias familiares. O decorar de cada tradição, de todos os detalhes da peça tecida por cada mãe da árvore genealógica. A maior certeza e cuidado para que ninguém saiba da história, para que nenhuma vida interfira na proposta sem resposta.

Escovas de dente que não se separam mais. Um amor que é pra ser sob qualquer coisa, que aperta o creme dental até a tampa do tubo, saboreia a lasca da maçã só pra sentir um beijo a mais de outra fruta. Danças, frases, olhares, os códigos que todo casal cria por acaso, sem premeditar nem querer causar ao mundo, só ser feliz... Felicidade! Se esta pudesse transfigurar-se humanamente seriam “A” e “Z”, porque eles eram um só.

Todo tinha que ser esquecido,já estava indo longe demais e a vingança premeditada desde o primeiro encontro tinha que ser colocada em prática... Mais fluxo da alma seguiriam, o tempo mover-se-ia faraônico em seu templo, e como receita em boas mãos, aconteceu o desejo. Intrigas, ódio, partes de um coração foram se espalhando e tendo que fazer escolhas. A família ou o amor (Muita gente não sabe, mas o amor pela família é o único eterno). A senhora da boa conversa virou pó de ranços, fagulhas de maldição soavam cruzando os caminhos. Desgaste do igual. Cada vez mais discórdia, gigantescas e mergulhadas em encenações e guerras.

Quando a sós mais uma vez, mil pedidos eram aclamados, sementes de loucura colocadas na cabeça sem peso nem receio. A força foi ganhando tamanho, até chegar na medida certa. O amor era mais importante, e enquanto “A” apenas esperava de pescoço girando inocente, “Z” em golpes lentos espalhava o sangue da própria mãe pelo quarto: o amor era mais importante do que a família. O correto seria ambos correrem juntos e descerem pelo mesmo vão da ampulheta, mas se não era possível, o espaço era de apenas um, do um que era pra sempre agora, e não do um que odiava sua escolha, que plantava veneno no que estava sólido demais pra deixar qualquer coisa penetrar. O corpo ficou ali, o fluído jorrando do corpo horizonte. “Z” não pode nem contar todo o caso, e a tropa chegou para levar quem tinha a culpa. O choque, a dor de toda uma tradição, parentes em suas expressões mais variadas. “A” na sua convivente interpretação, na solidão outra vez, uma solidão que ria pelo trabalho cumprido. Ninguém desconfiara de “A”, pois suas armas foram palavras. Mas finalmente teve a vingança: seu pai havia morrido pelas mãos do pai da criatura que agora matara a própria mãe. A honra de sua família levara décadas, mas fora recuperada, colocando aqueles infelizes no desespero pela mesma moeda. A espera valeu cada gota, cada mordida do pecado. E o outra vez estava bem ali, esperando tranqüilo no céu por mais um lindo caso de horror, ou mais uma horrível história de amor.