Desde criança ouvira falar de casa mal assombrada na fazenda, mas nunca tinha ido ou pelo menos tido a curiosidade de visitar a que juravam ser, porque já haviam visto ali coisas estranhas. Ali naquela fazenda as construções antigas, ainda fortes, permanecem desde sempre com essa fama. Os mais velhos, muitos dos que já se foram há tempos, diziam que naquele local viviam almas penadas.
Por isso, num passeio que fez pela região, para matar a saudade dos tempos idos, ela resolveu finalmente entrar numa daquelas casas. O momento era propício, entardecia e esfriava, com um vento gelado insistindo em fazer varrer folhas pelo chão e dar o tom sobrenatural. Passou rápidamente pela trilha que conduzia até a moradia. Ali estava ela, simples como sempre fôra, maltratada pelo tempo, abandonada, um tanto judiada pelas intempéries. Caminhou passo a passo em direção à porta, pegou a maçaneta enferrujada, forçou-a e abriu. Foi fácil, pois não estava trancada. Adiantou-se devagar pelo espaço onde deveria ser uma sala. O piso era de cimento queimado, bem gasto, todo coberto por poeira, mas que de tão antiga já havia se desenhado como um tapete fazendo parte do chão. Notou o teto com a madeira deteriorada, havia ninhos antigos de pássaros ali, abandonados agora. Deu alguns passos em direção a um corredor sombrio, havia portas de quartos fechadas e uma entreaberta. Ali então ela adentrou, forçando a vista, pois estava meio escuro lá dentro, não havia nem luz elétrica, fôra desligada devido a má conservação dos fios e porquê ali não morava ninguém há décadas. No quarto em questão, a janela estava levemente aberta, mostrando a luz do crepúsculo por entre frestas. Repentinamente ouviu um estalido, um barulho estranho, sentiu a presença de algo, mas não sabia o que era. Quando olhou bem para o fundo do quarto, perto da parede do lado direito viu ali uma velha cadeira de balanço. Não a havia notado ao adentrar o recinto e percebeu que ela levemente balançava, como se alguém ali estivesse sentado. Seria o vento daquele momento capaz de fazer isso? Ventava pouco lá fora, não seria suficiente para tal proeza. Encarou bem o local, fez o sinal da cruz e pediu: se ali houvesse algo, se fosse do bem, se quisesse orações, que balançasse três vezes em seguida e parasse. Os  cabelos da moça, sempre tão bem penteados estão arrepiados até agora. Aconteceu! A cadeira fez o que ela dissera: balançou mais três vezes e parou.
Saiu dali apressadamente, sem olhar para trás e naturalmente rezando. Começou então a acreditar no que lhe contavam na infância. Havia algo mais naquela construção, assim como também diziam haver em outras por lá. Jurou nunca mais conferir nada, apenas orar como prometeu.
Em tempos de tecnologia como agora quem irá acreditar numa coisa dessas? Porém o que o coração pressentiu e olhos perceberam nunca será esquecido. Aquele vai e vem rápido e suave da velha cadeira não sairá jamais de seu pensamento, porque viu naquele momento com seus olhos, como se diz, o que já havia ouvido desde sempre.
Saber que pode existir manifestação desse tipo reforçou-lhe a fé. Não foi algo tão ameaçador, embora resultasse em algum medo do desconhecido, chegando a dar um arrepio estranho. Por isso teve a certeza do porque ninguém ainda ter tirado o móvel de lá.
O fato constatado mostrou que algo mais forte que a vida existe ou apenas imaginação, devido ter na memória os "causos"?


Foto: Marilda
Marilda Lavienrose
Enviado por Marilda Lavienrose em 08/08/2011
Reeditado em 02/10/2021
Código do texto: T3147676
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