A projeção (mini-conto)

Ele estudou em Roma. perto do Papa fez o Doutorado. Era especialista em arte. Fez sua licenciatura no Brasil. Chegou a ir para a Espanha e para a França. Conheceu a Alemanha. Publicou vários livros. Andava com a arte do lado, no meio, dentro e fora do seu corpo. Matéria preferida: “História da Arte”. Dominava o Romantismo, o Maneirismo, o Barroco, o Rococó, o estilo Neoclássico, o Gótico, o Neogótico, o Naturalismo, a arte moderna, o Realismo, o Simbolismo, o Impressionismo, o Pós-impressionismo o Neoimpressionismo e outros ismos. Ele foi e é uma referência acadêmica e teria lugar garantido nas melhores universidades no exterior, pois dominava o seu ofício como ninguém e esnobava com os seus cinco idiomas, além de aparentar com facilidade a etiqueta dessa modernidade mórbida. Todavia, caiu no Brasil, em uma faculdade particular. Chegou cheio de livros, artigos, imagens, telas e ideias. Nos vinte minutos de aula. Apesar das telas maravilhosas e repletas de informações conjunturais, com o barulhinho do projetor ele escutou algo ao longe. Parou tudo. Desligou o projetor. Olhou para a sala: “o João estava roncando”.