De vez em quando ficava fora de circulação, com a cara de Amélia, como dizia minha mãe, desconfiada e amarela.
Na verdade eu e eu mesma sabíamos que tinha cometido alguma coisa errada e por este motivo não arredava o pé de casa.
Pela primeira vez a Chica estava muito aborrecida comigo e eu prá falar a verdade estava mais ainda.
Aconteceu que um dia doei o baú da chica, simplesmente porque aquele baú tinha uma conta a acertar comigo e vice-versa.
É que na minha escola resolveram fazer um museu. E a equipe responsável passou nas salas de aula pedindo a colaboração dos alunos e eu como sabedora de tudo falei do baú da Chica e do seu vestido velho.
Doei também um pilão velho que a minha mãe tinha que deveria ter uns 100 anos de idade, mas que estava lá, servindo para preparar farofa de carne.
Lembro que a minha mãe assava as carnes na brasa e colocava no pilão com farinha e virava o que na minha cidadezinha do interior chamavam de paçoca de carne. Uma delicia!
E num belo dia a equipe aparece na casa da chica para ver o baú e pedir pra doação! Só que eu não sabia que isto seria o fim do mundo para a chica que me disse com todas as letras que quando morresse iria dentro do seu baú, para não ter que dar a ninguém.
E eu, na minha curiosidade sem limite, queria saber como seria que a chica caberia ali dentro!
Que a Chica tinha um xodó com esse baú, eu sabia. Mas a ponto de morrer e levar, aí eu não entendi foi nada. Me chamou de sem coração, de atrevida e eu virei uma tiririca!
Na minha casa, não aconteceu esse absurdo da minha mãe querer também levar o pilão quando morresse, mas falou que o pilão era da avó da tataravó dela, e que ela era o guarda do pilão, batizado com seu nome e que dali ninguém arrancava. Também esse pilão, acho que feito de angico devia pesar uma tonelada.
Conclusão. Todo mundo brigando comigo, me chamando de chata eu só tinha mesmo que dar uma sumida e só voltar quando esquecessem a história.
 

Emedelu
Enviado por Emedelu em 27/03/2013
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