O RESSUSSITADO

Zé do Mané era um homem muito rude. Não temia nada, nem mesmo os conselhos religiosos e as orientações de seus antepassados. Todos os dias eram a mesma coisa para ele.

Vivia em um sítio, mas não combinava muito com a família. Sempre brigava, bebia, furtava algo de vizinhos e até um saco de açúcar resolveu furtar de um comerciante na cidade.

Certo dia, já cansado desta vida tão pacata, com dívidas no Banco do Brasil, com o nome no SPC, com multas na Receita Federal, com CNH aprendida, Zé do Mané não cogitou. Vou sair andando por ai, vou me transformar em andarilho, vou trabalhar em Goiás, não sei bem ao certo.

Quando resolveu falar com a família, esta o recebeu com muita briga, com xingamentos e outras coisas.

Então Zé resolveu sair andando. Não foi muito longe e teve uma grande ideia . Vou fingir que morri e vou avisar minha família. Desta forma, ela vai me perdoar e serei reingressado no lar.

Pôs seu plano em prática.

Quando foi por volta da meia noite, de dois dias após sua saída da casa, lá apareceu o Zé, vestido com um lençol branco, um chapéu na cabeça e subindo na porteira de entrada do sítio dele pôs-se a gritar:

__ Eu morri, porque ninguém gostava de mim. Fui assassinado com um tiro bem no coração. Meu corpo está jogado no meio do mato. Os urubus já estão querendo me comer. Ninguém gostava de mim. Agora vocês vão ver a falta que farei nesta casa.

Já havia algumas pessoas na casa. Antes, ao entardecer, correu a notícia que ele tinha morrido. Várias pessoas foram até a sua casa para cumprimentar a viúva ( por sinal muito bonita, com corpo de violão, cabelos grandes, olhos pretos, pessoa de mais ou menos uns 24 anos) e alguns já queriam jogar farinha para a viúva. Um dos farinheiros era o Pedro, um meia idade, de mais ou menos uns 45 anos, que abraçado à viúva dizia:

__ Não fique triste. Se o coração dele partiu com um tiro, o meu estará inteirinho para você. Vou mudar imediatamente para cá. Você não passará falta de dinheiro, de amor, de carinho e de todos os bens materiais. Chorava junto à viúva...

Quando as pessoas viram a alma do Zé na porteira, alguns quiseram correr de medo, outros subiram em árvores ao verem o Zé de braços abertos e sempre repetindo as palavras acima: Eu morri...

Gavião era um cachorro bravo. Qualquer anormalidade ele enfurecia e partia para cima. Ao ver aquela figura na porteira, resolveu verificar de perto. Latia e rosnava muito. Caminhando até o Zé, começou a latir e querer pegar o lençol para morder.

Zé repetia as mesmas palavras mais ou menos umas vinte vezes. Parecia ter decorado todas as sílabas, todas as letras.

Quando Gavião aproximou-se mais vezes, Zé ficou com medo e gritou bem forte:

__ Sai, sai, sai, sai, cachorro vira-lata, “ocê tá me mordendo” e se desequilibrando caiu da porteira e o cachorro começou a morder e ele gritava: sai, sai, cachorro.

Sua esposa, ao ouvir aquela barulhada e juntamente com alguns próximos, apareceu abraçada com o Pedro.

Zé, não se contentando com aquela cena, disse bem alto:

___ Compadre Pedro, já morri uma vez, seu filho de uma mãe perdida, seu filho de uma vaca velha, ressuscitei e agora quem vai morrer é “ocê”, aproveitador de viúva nova e bonita. Espere somente eu tirar este lençol e pegar um pedaço de pau e sair fora deste maldito cachorro, que já me mordeu o calcanhar e a b... vou te pegar agora.

Neste hora, o Pedro correu. Até hoje não se sabe onde ele se escondeu.

JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO
Enviado por JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO em 13/04/2013
Reeditado em 21/06/2016
Código do texto: T4238070
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