Assalto e Prece

O ano era 1992, numa pequena cidade do interior, onde havia apenas três agências bancárias. Até então, nenhuma delas sofrera qualquer tipo de assalto. Como se sabe, os meliantes analisam previamente o ambiente, visando minimizar os riscos inerentes ao crime. O acesso a duas das agências estava interditado para veículos, em razão de algumas barracas juninas armadas em toda a extensão da rua. Partiram, então, para a que estava livre, mais próxima à saída da cidade. Ali adentraram, como se fossem clientes, e só depois anunciaram o assalto. Ordenaram aos funcionários que erguessem os braços e fossem ao fundo da agência e ali ficassem de costas, em frente a uma parede onde havia um crucifixo.

Enquanto dois assaltantes faziam a varredura do cofre, um deles sentou-se numa das cadeiras à frente da mesa do gerente, como se fosse um cliente, à espera de ser atendido. Nesse ínterim, entra um cliente que tinha certa intimidade com o gerente, a ponto de habitualmente dirigir-lhe algumas brincadeiras. Sem entender o que se passava, vendo todos ali de braços erguidos em frente ao crucifixo, imaginou tratar-se de uma prece. Na intenção de interceder a favor daquele suposto cliente que estava ali sentado, assim gritou para o gerente: “Ei, seu moço, isto é lá hora de rezar, venha atender aos clientes. Deixa essa reza para depois”. De pronto, o meliante aponta o dedo para sua barriga e mostra o cano do revólver sob sua camisa e diz para o cliente: “Deixa os homi fazer a oração”.

Assustado, o cliente emudece, fica inerte, pasmo diante daquela situação. De repente, vêm os dois meliantes com as sacolas resultantes do assalto e saem em direção a um veículo preto que os aguardava à frente da agência. E aquele que monitorava o cliente, aproveitando-se do engano inicial sobre a oração, saiu gritando: “Aleluia, aleluia, irmãos, agora pode parar a oração!”

E o carro preto partiu em disparada, sem nenhuma chance para a polícia que só ali chegou depois da situação acalmada. Esta foi a primeira ocorrência do gênero naquela pacata cidade do interior.

Irineu Gomes
Enviado por Irineu Gomes em 06/05/2013
Reeditado em 01/04/2021
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