Beija-Flor

Beija-Flor

Estava eu na porta do meu Ateliê segurando um pincel e olhando para as minhas árvores, plantas e flores, e queria pintar algo diferente, mágico, e pensei em várias coisas, mas nada batia com minha emoção de momento e continuei ali, ouvindo a calma música de Richard Clayderman e olhando minha linda flor chamada brinco de princesa. Eis que derrepente vem um lindo beija-flor, bailando com suas asinhas e com seu longo bico sugando o néctar da flor... E eu ali, olhando, sem poder me mexer, respiração silenciosa e o coração batendo forte quase saindo pela boca, sentia que aquela era a minha obra de arte. Naquele instante não tinha como eu pegar minha máquina fotográfica, o melhor era olhar bastante para registrar na minha mente. Assim guardei mentalmente aquele momento mágico onde a cor do beija-flor era como a do arco-íris.

Depois de certo tempo ele voou em busca de mais néctar, no outro vaso, eu entrei no ateliê, mais do que depressa, e tentei passar para uma folha o que havia presenciado... Gostei do que vi, mas faltava alguma coisa, queria fazer uma flor maior, não o delicado bico de princesa, também gostaria que o beija-flor desse a sua mensagem de alerta, de preservação... Deixei o desenho do meu beija-flor na folha de papel e fui pesquisar em livros, qualquer tipo de flor diferente. Não conseguia achar nada e a beleza do beija-flor não saia da minha mente.

No outro dia, acordei com o cantar dos pássaros e voltou à vontade de ver a minha obra de arte pronta, o meu beija-flor, como toda manhã, fiz minha oração pedindo ajuda e, também, escrevi a obra realizada no meu diário, na maquete dos meus sonhos.

Pesquisando em uma revista achei uma bromélia, comecei a minha criação, primeiro pintei o fundo, depois a bromélia e finalmente cheguei ao meu beija-flor. Gostaria que ele ficasse bem parecido, com as cores do arco-íris. Fui caminhar no meu quintal na esperança de ver algum voando, liguei a borracha e com o esguicho pra cima, deixei a água cair como se estivesse chovendo para eles virem banhar-se como eu sempre fazia, fiquei horas e nada, eles estavam a fim de gozar com a minha cara.

Achei uma foto de um beija-flor em um trabalho de um aluno, mas estava muito fria, não tinha vida... E fiquei ali arrumando a flor, sombreando mais, e o meu beija-flor só riscado na tela... De repente olhei para o meu vaso e lá estava ele batendo as asinhas freneticamente, fiquei parada só olhando e pensei: Ó meu bichinho, se eu pudesse vê-lo,

bem de pertinho...E aí aconteceu o inesperado, acho que ele ouviu o meu apelo e veio sentar-se na janela do meu ateliê e consegui passar na tela as cores do meu beija-flor, ele continuou me ajudando, voltou para o vaso e ficou bailando tão rápido, no compasso da música, consegui pintar as suas asinhas batendo, estava pronta a minha obra e ele cansado voou, mas feliz, pois havia acabado de se tornar um grande artista.

Deixei a minha obra de arte no cavalete para secar e comecei a esculpir em gesso o rosto de um santo que eu precisava entregar e já estava atrasado, de vez em quando eu olhava admirada e feliz a minha obra e continuei trabalhando tranqüila ao som da música de Richard Clayderman. Nisso ouvi vozes e risadas, e eis que entra, correndo no ateliê, a Fifi, a cachorrinha poodle da minha irmã que tinha adoração por mim e minha cachorrinha atrás dela, bateram no cavalete e o quadro caiu e a Fifi pulando em cima da tela com tinta fresca, eu tentava segurar as duas, mas não conseguia. Elas estavam a fim de bagunçar. O beija-flor ficou nas patinhas brancas da Fifi e o resto da obra, no chão, sofá, e na minha mão, sentei no chão segurando aquele borrão, comecei a chorar e elas me lambiam daqui e dali e desesperadas, não entendiam, queriam que eu ficasse feliz e que fosse brincar de jogar bolinha, até que as duas se acalmaram e foram curtir outras coisas. Fiz faxina no ateliê, passei um pincel em toda tela, misturando todas as cores e por incrível que pareça o fundo ficou melhor que o outro e em algumas partes onde a tinta já havia secado ficou em alto relevo.

Fiquei desanimada, triste, faltava à inspiração para fazer outro beija-flor e continuei trabalhando em outras coisas. Em todo o tempo que eu fiquei desanimada o beija-flor veio no vaso sugar o néctar da flor. Minha mãe me abraçando, falou: - Filhinha se anima, volta a sorrir e olha pinta outra vez o seu beija-flor e na mesma tela, tenha a certeza que dessa vez, vai dar certo.

Fiquei horas pensando naquilo que minha mãe falou e obedeci, criei animo e comecei tudo outra vez, o fundo já estava pronto, fiz novamente a flor que ficou com seus altos relevos por baixo, ficando muito linda, o fiz molhada, pois na minha imaginação havia chovido e coloquei umas gotinhas de água para o beija-flor beber. Agora faltava ele!...

Acordei com o cantar dos pássaros e novamente me deu aquela vontade de ver a minha obra pronta. Mais uma vez orei e pedi ajuda, escrevi no meu diário, na maquete dos meus sonhos.

E lá estava o beija-flor, parece que ele entendia com seus olhinhos tão espertos e redondinhos, que precisava me ajudar. Outra vez me ajudou, por incrível que pareça sentou na minha janela ficando horas coçando-se, depois foi bailar sugando o néctar da flor, batendo suas asinhas freneticamente e eu consegui terminar a minha obra, por incrível que pareça, por todas as tempestades que passou, ele ficou mais lindo, e mais uma vez ele se fez artista.

Hoje, quando olho para minha tela e vejo a marca em alto relevo por baixo, dá uma saudade da Fifizinha, pois ela agora está fazendo suas peripécias com os anjos pintores no céu, e toda vez que olho para um beija-flor sinto orgulho por ter conseguido pintar e, o privilégio de ter sido sua aluna... E aí está a foto da Obra com o artista e mestre.

Essa obra Beija-Flor saiu na Editora Domani Artistas do Vernissage Vol. VI – 2006.

Do meu livro: Pedaços de Uma Vida

Sonia Maria Marques
Enviado por Sonia Maria Marques em 08/05/2013
Código do texto: T4280859
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.