PITOCO
Era dia de festa
Festa do padroero
Duma cidade lá do norte do Ceará
São Belarmino é o nome dele
Um santo milagrero
Protetor da paróquia
Onde minha família ia rezá
Prá saí na porcisão,
Levando o andor do padroeiro
Nas ruas da cidade
Prô seu povo abençoa.
Mas eu, muleque sem fé
Preferi ir pro mato pra caçá
Levei meu estilingue
Feito de furquia de goiabera
Meu borná de pano na gibeira
Cheia de bolota de barro
Secada no sol do meio dia.
Varei a cerca do sitio
Atravessei a pinguela
Com meu cachorro Pitoco
Que pulava de toco em toco
Pegando as rolinhas caçada
Com meu estilingue de boa pontaria
As rolinhas que ia caindo
Num tiro certeiro
De quem não tem coração
Sem dó daquelas coitadinhas
Que se criava no mangueirão
Sempre em bando
Pelo chão.
Pra mim eu tava em festa
Andando pelo mato adentro
O Pitoco do meu lado
Sempre me acompanhando.
Todos os tiros que dava
Era certeiro
Ele saia correndo
Pegá a caça derrubada
E era mais uma pro meu borná
Foi quando distraído
Uma cobra venenosa
Daquela bem grande
Enrrolada numa arve
Bem na minha frente
Querendo me pegá.
Pitoco pulou na frente
De modo valente
Latindo pra me adiverti
Querendo dize do perigo que corria
De repente a cobra sartô da arve
Num golpe certeiro
Se enrrolou no Pitoco.
E vendo Pitoco enrrolado
Com o corpo daquela cobra
Com os zoio quase esbugaiado
E eu nada pude fazê.
Ela foi devagar apertando
Ele latia...mas não podia se mexê.
Me olhava... chorando...
Devagar foi soluçando
Até o urtimo suspiro
Sai correndo pra casa
Como um covarde
Que nada fiz pra sarvá
Meu querido companheiro.
Chorando em desespero
Gritando pro padroero
Que viesse sarva meu Pitoco
Mas era tarde demais.
Eu sem meu Pitoco do lado
Apinchei o estilingue no lago
Joguei fora meu borná
Com as bolotas de barro que fiz
Pra mor de eu ir caçá.
Nunca mais fui pro mato
Pra num vê o local da tragédia
Daquele que se sacrificou
prá minha vida sarvá
Adeus Pitoco querido
Vô trazê você na memória
Pro resto da minha vida.
Fazendo você uma gloria
Contada na minha historia.