"Fetiche"-Contos Curtos.

Débora estava muito chateada, incomodada mesmo. Vinha se refazendo de uma grande paixão, um grande amor que tivera no passado por um homem encantador, e com quem foi mal sucedida . Entretanto, Débora ,teimosa, ou, quiçá, por masoquismo próprio, vivia se atormentando e cultivando sua paixão. Mas, inclusive ela, pouco o conhecia já que estava espantada, em estado de choque ao ouvir falarem em uma roda social que aquele homem que considerava fora de série era fanático por sapatos de mulher e, antes de as olhar , procurava seus sapatos. Era a primeira coisa que notava e,caso não se agradasse deles, sequer levantava o olhar para elas. Mulheres, pessoas, valiam por seus sapatos e, de preferência, que fossem Gucci.

Débora levantou da poltrona onde estivera estatelada após o choque da notícia e foi para a frente do espelho. Olhou se bem e começou a rir sem parar, rir e chorar de si e de sua louca paixão malograda.Quer dizer que bastava comprar uns sapatos? Dependia de um par de sapatos para receber um olhar? E Débora saiu e comprou sapatos novos, e foi a uma festa onde encontraria aquele pobre coitado por quem curtira amor anos a fio. Sentou se em frente a ele, cruzou as pernas e, imediatamente, todos os olhares se voltaram para seus pés. Débora pôs as pernas encima da mesa de centro para que fossem bem visíveis os sapatos novos e, assim, exibiu a façanha cometida. Na mesa se encontravam os sapatos mais horrorosos possíveis e imagináveis!

Chistopher nem a olhou e, quanto à Débora, bem, Débora não perdeu o élan, chegou perto dele e lhe elogiou os elegantes sapatos italianos, dizendo e mal contendo o riso:-Se fosse por sapatos, Chris, eu me apaixonaria, sim, por ti.

Depois do episódio, por muito tempo, Débora cultivou a delícia de andar de pés no chão...

Suzana da Cunha Heemann
Enviado por Suzana da Cunha Heemann em 21/03/2015
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