Operação LAVA-RÁPIDO

Estava absorto, envolvido com as minhas tarefas do dia. Meus olhos e neurônios não vislumbravam nada mais que o calhamaço de folhas que compunham os processos. Julgar e ser julgado fazia parte do meu cotidiano; posto que, qualquer erro seria, (como sou) cobrado pela minha consciência; motivo pelo qual, encontrava-me compenetrado. De supetão toca o fone: "Mutável, você está sendo convocado pelo seu Superior para participar da reunião que está prestes a começar em sua sala".

Estupefato, empurrei os processos para o meio da mesa. "O que será que esse Senhor deseja". Subi as escadas com o coração em disparada. Mal cabia na caixa toráxica. Cheguei à porta, apertei a gravata no pescoço delgado parecido de girafa, engoli em seco o desespero e dei três toques na porta. "Entre". Ouvi. Delicadamente o fiz. Várias cadeiras circundavam uma enorme mesa. Seria mais uma gravata em meio às muitas presentes.

Pedi licença aos presentes: "com licença Senhores, muito Bom dia"! Tem algum lugar reservado"?

- Sim. Por favor, sente-se na primeira cadeira ao meu lado. Respondeu o meu Superior. Humildemente, sentei.

- Saibam todos que, embora estejamos reunidos neste instante, o assunto não é nada relevante, contudo, é praxe que a façamos e assinemos a ata.

Ao ouvir meia dúzia de frases do que se tratava a mal fadada reunião, resoluto pedi a palavra: "Se é esse o assunto, saibam todos que não concordo com o que ouvi. Assunto de suma importância. Entendo que deve sim, ser discutido, levado a sério e posteriormente, tomadas as medidas para a resolução dos problemas; que não é um e nem dois. Estamos passando por um terremoto. Até quando iremos omitir tais coisas? Definitivamente, por não concordar, não assino a ata.

- Suba imediatamente ao DP. Procure o chefe, que ele está com sua carta na manga da camisa.

Ao deixar a sala, ouvi os resmungos: "Por favor, dê as cartas. Não, não precisa embaralhar. Está sob o ordenado".

- O que houve meu querido, para deixá-lo com esse mal humor. Amuado! Perguntou minha esposa.

- Culpa da escassez de água. Nada!

Como é difícil ser honesto e sério em paraíso de Gravatas e Ternos ordinários e salafrários, foi tudo que pensei. O galardão? Juntamente com minha esposa e filhos, fomos todos para a rua da Amargura.

Mutável Gambiarreiro
Enviado por Mutável Gambiarreiro em 25/07/2015
Reeditado em 29/07/2015
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