"O Diálogo"-

Poli liderava ao lado do namorado Jaques, uma alegre mesa no reservado clube da cidade. Comemoravam o réveillon entre taças de champagne e canapés. Chamado pelo grupo ao lado, Jaques se afastou na mesa no exato momento em que Geraldo, um homem ainda jovem trajando um smoking impecável, se aproximava, dirigindo se à Poli em voz alta:

-Prazer em te conhecer, Poliana. Sou fazendeiro em Santa Maria e muito amigo de teus pais a quem seguidamente visito. Trago de minha fazenda e levo para tua mãe, ovos. Voce alguma vez viu meus ovos? Sua mãe lhe mostrou?

Poli, quase engasgada para não gargalhar devido ao duplo sentido que havia quanto à ovos, sem acreditar no que via e notando os casais de amigos contendo o riso, controlou se, não perdeu a classe, e resolveu responder simplesmente a pergunta com uma expressão inocente, e disposta a findar o diálogo rapidamente para contornar a situação:

-Não Senhor, eu não os vi ainda ,mas oportunidades não hão de faltar para ver.

Os amigos metiam pedaços de bolo na boca para não rirem, Geraldo, porém, não se deu por achado e sequer entendeu as expressões incrédulas dos casais que continham o riso:

-Deixei uma cesta com os meus ovos na copa de sua mãe. Ela não fez doces, a Sra não provou ou gostou dos meus ovos?

Poliana, agora visivelmente irritada com a insistência incômoda ,e constrangida pelo teor da conversa que poderia ser entendida de outra maneira, replicou com uma ponta de ironia na voz e sem mais disfarçar o riso:

-Pensando bem ,eu vi sim, Geraldo. São uns ovos enormes, não?Brancos e lindos. Eu vi, sim, os ovos na cozinha de minha mãe, só não sabia que eram os seus ovos e eu comi, sim, e achei deliciosos os seus ovos. Aliás eles são marvilhosos, maiores dos que temos aqui na cidade.

Jaques que voltava neste exato momento, ficou paralisado ao escutar o término do diálogo,pensando”:-Mas como! Poli,a sua Poli, não era disto !Caso tivesse estado com este homem, jamais falaria em publico e de forma tão vulgar sobre suas intimidades. E nunca ela havia se referido aos documentos dele como OVOS!”. Exclamou então, confuso e furioso:

-Poli, enlouqueceste? Que conversa é esta? Quando foi que viste os ovos brancos e maravilhosos deste Senhor? Ovos lindos, Poliana? Brancos, maravilhosos, enormes??Que forma de falar é esta? Sinceramente estou confuso e chocado!Que jeito novo é este? Tu nunca te referiste as minhas bolas como ovos!!!Estou te desconhecendo!

E já ia desferir um soco em Geraldo e agarrava Poliana pelo braço, quando os amigos não mais se contiveram e desandaram a gargalhar, seguraram no e explicaram a que ovos Geraldo se referia. Jaques protestou ainda brabo e agora com espanto no rosto:

-Mas então são ovos de galinha Sr?Ora, eu senti vontade de lhe matar!Mas os Sr tem de cuidar como se expressar quanto a seus ovos lindos e maravilhosos, de galinha,claro! O Sr tem de dizer que são ovos de galinha!!! Qualquer dia lhe moem a pancadas !Isto pode levar a mal entendidos, as pessoas ligam as coisas, maliciam...O que o Sr disse quase me custou um enfarto e uma enorme descarga de Adrenalina!

-Desculpe, não me havia dado conta. Bolas, afinal, ao que os outros vão pensar desde que meus ovos sejam aprovados, está tudo bem e eu, feliz.

-Sr Geraldo não são seus ovos, são os ovos de suas galinhas! , interrompeu Jaques ainda abalado pela vontade que tivera de o matar ao ouvir a conversa e, pegando a pobre e vexada Poli pelo braço, levou a para virar o ano em casa.

No dia seguinte Poliana o chamou para o café da manhã. Havia se esmerado para o namorado que chegou cansado em casa e logo deitou.

Jaques entrou na cozinha, olhou para a mesa, avermelhou e gritou:

-Ah, não, querida, isto não! Omeletes nunca mais!!!

Suzana da Cunha Heemann
Enviado por Suzana da Cunha Heemann em 19/05/2016
Reeditado em 19/05/2016
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