A moça ia casar-se e estava tudo preparado há algum tempo. A data seria num setembro, época da primavera, perfumes e cores enfeitariam ainda mais o momento sonhado. O rapaz morava na mesma região, numa fazendola e ela em outra. Estavam a poucos quilometros um do outro e a única estrada que os ligava era de terra batida, com buracos e mau escoamento de água. A noiva sabia que seria arriscado casar-se em tempo instável como  a primavera, estação de mudanças bruscas, mas quis o evento na fazenda do rapaz onde havia um espaço grande e bela capela. Tudo foi arranjado para a cerimônia que seria apenas para parentes próximos e moradores da região. Os tios e primos da dela chegaram dias antes e ali se hospedaram, havia a correria que antecede essas datas e tudo era alegria ali na tão bucólica tapera. O mesmo acontecia na família do noivo onde os preparativos eram maiores. Afinal tudo tinha que ser bem pensado, nada deveria ser esquecido, desde a arrumação da capelinha, com belas flores e tapetes, até os comes e bebes no capricho campesino. Assim chegou a véspera do casório e Madalena disse: - Mamãe, estou preocupada. Viu como o tempo está prometendo chuva? Se isso acontecer como passarei pela estrada até a fazenda do João? A mãe tranquilizou-a dizendo que talvez nem chovesse, se viesse algum pé d'agua seria apenas chuvinha refrescante e que a estrada estaria em boas condições - mas por dentro também estava preocupada - o caminho ficava quase intransitável no tempo chuvoso. O grande dia chegou com sol forte, ainda bem e todos na expectativa da festa. Quase na hora marcada para o casório - seria às 16,30 - de repente o céu começou a fechar-se em nuvens negras e a água despencou com força. Madalena chorando disse: eu sabia e agora? Mas foi apenas um tipo de pancada de verão, passou rápida a chuva e tudo prosseguiu. Pronta a noiva, toda embonecada e feliz, sem atrasos, o padre lhe pedira para ser pontual, ele teria compromissos depois. Ela dirigiu-se ao antigo carro que havia escolhido, quis um modêlo diferente e chamativo, chegaria em grande estilo. Com a ajuda de sua mãe aboletou-se com cuidado no banco traseiro, em cuidados para não amassar o lindo vestido de noiva que tinha longa cauda de quase cinco metros. Era em tecido fino, maravilhoso que se arrastava pelo chão, toda bordada em pedrarias e rendas. Entraria na igrejinha em pompa e circunstância, vestida como rainha. Assim que saíram dos arredores da casa e pegaram a estrada logo perceberam que a chuva havia feito muitas poças e estragos, o carro deslizava em alguns locais, mas seguia devagar. Antes de uma curvinha, seja por descuido ou algo mais, ele derrapou feio. Ficou parado no meio do caminho entre poças d'água e uma porção de capim baixo todo encharcado, o que fazia os pneus deslizarem sem sairem do lugar. Precisaram mudar a noiva para o automóvel que seguia à frente deles, e também com dificuldades.- para isso foi necessário que duas pessoas descessem e ficassem esperando carona-  Madalena desceu do carro reclamando do tempo e da vida, ao pisar no chão falseou o pé, sujou todo o sapato que quase enterrou-se na lama e o pior: a cauda do vestido ficou respingada de barro, quase virou uma calda de lama. Houve choros e risos, mas ela foi assim mesmo, nada poderia fazer e entrou na igrejinha sorrindo, meio sem jeito como a Cinderela que quase virou abóbora.

09/08/17

Fato real
Marilda Lavienrose
Enviado por Marilda Lavienrose em 09/08/2017
Reeditado em 09/08/2017
Código do texto: T6078601
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