Cinzas

Cinzas

Dia 10 de Maio de 2016 o carro pegou fogo em plena emigrantes no litoral sul, Praia grande sentido Cubatão, Eu estava indo levar meus filhos para a escola e em seguida eu iria para o serviço.

Até um mês desse acontecimento, eu era uma mulher submissa, que compreendia as dificuldades e esperava, é eu esperava muito, esperava como quem não tem outra coisa a fazer a não ser esperar. Mesmo aos despresos e agreções físicas, psicológicas, eu creditava na família. Acreditava que eram fases difíceis, mas depois de me ver morta durante um mês com todo aquele fogo nos meus olhos durante todas as noites e sentindo o cheiro de fumaça no meu nariz...

Vi que a vida não tinha tido nenhum sentido significativo que me fizesse ser alguém. Eu era uma sombra.

Foi difícil e dolorido aquele momento em que eu arrancava meus filhos do carro e jogava eles no acostamento berrando que não era pra eles saírem da li, enquanto eu corria pra salvar minhas muambas que vendia pra levantar uma grana pra ajudar no orçamento da casa, enquanto eu voltava no carro em chamas pra pegar as mochilas das crianças e meus documentos e ainda falava no celular com meu marido tudo que estava acontecendo indicando o local.

Estava na emigrantes e meu carro perdeu a força, Eu não entendi nada, acelerada e ele não correspondia, dei seta para a esquerda e parei no acostamento. Desliguei o carro, tentei ligar e ele não ligou, ligou painel luzes... Tudo, não apareceu nenhuma mensagem de alerta no painel. E aquilo me deixou confusa. Receosa, liguei pro meu marido e disse o que estava acontecendo, as crianças no Banco de trás, meu filho mais velho de 6 anos com um olhar de peocupado perguntando se estava tudo bem... Eu pedindo um pouco de calma que eu estava falando com o papai. Meu marido me pedido pra esperar um pouco e tentar ligar de novo, Eu fiz exatamente o que ele falou, foi quando uma pequena explosão aconteceu na frente do carro, e começou a sair um fogo do lado do motorista, Eu falei que fez um barulho e tava pegando fogo. Foi quando sai do carro e tirei as crianças e todo o apavoro aconteceu.

Quando meu marido chegou metade do carro já estava coberto de fogo, foram minutos pra perder um bem que paguei por anos... Alguns homens me ajudaram com extintores, a emigrantes estava em reforma e os caras da obra vieram extintores gigantes e nada adiantava. O fogo consumia, queimava, derretia, explodia pneus, e uma conquista suada ia embora, tinha acabado de pagar e não tinha seguro.

Escutei em meio a todo o caus

_É, dessa vez não era um exagero seu, vim achando que era mais uma das suas!

Aquilo me cortou a alma, me queimou, me derreteu, me explodiu, acabou comigo e todas as esperanças em esperar... Esperar... Esperar.

Tinha acabado de completar 28 anos a alguns dias, e 10 anos que estávamos juntos, sendo eles anos de muitas mudanças em nossas vidas... Maturidade, responsabilidades, passando anos vieram os filhos, as dificuldades, as provas, as pequenas alegrias, cada vez mais pequenas, mas mágicas e amorosas, esperançosas, por que queríamos crescer e não apenas ser mas também tornar e criar pessoas "humanas" respo sabeis e amáveis.

Mas não nos amávamos mais, não nos tocavamos, não sorriamos mais um pro outro, não víamos mais os detalhes, as coisinhas pequenas que trazem todo o charme e emoção pra uma vida. Não tinha mais nada além de números e cifras, cartões e cheques, contas e boletos. Vazio e vazio ... E esperas... Esperas e esperas...

Voltando ao fogo, ele cremou meus sentimentos aquele dia. O Verde virou cinzas, e nada mais cobria o vazio do rombo que aquelas palavras me causaram... Nenhum tapa, empurrão, soco ou apertos no braço me fizeram sentir tanta dor. Tanto desprezo, tanta humilhação... Tantas dores enraizadas, que brotaram flores, flores murchas, roxas do amor fracassado que existia em nós.

Morreu a esperança, a pureza, a ingenuidade, morreu roxa por merecee dor e muito mais, por que essas também foram suas palavras, morreu o Verde e a brisa chegou e levou suas partículas de cinzas a pairar no ar... Cada partícula se fez resiliente... Caindo em solo adubado próximo a um ninho... Onde um sopro carregou aqueles grãos de cinzas pra dentro do ninho onde a fênix começou a chocar.

Vem o fogo destróir, Vem o fogo lapidar... Vem o fogo e eu vou, mas com forças novas vou voltar.

Nathalye Machado
Enviado por Nathalye Machado em 19/09/2017
Código do texto: T6119201
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