É MACHO OU NÃO É?

Teófilo foi o décimo filho do Cel. Sampaio.

Nasceu mirradinho como todo “rapa de tacho” tem que ser.

Foi batizado no mesmo dia em que nasceu porque ninguém dava dez réis de mel coado pela vida dele, mas pelo desvelo da mãe, pelos cuidados de todos da família, pelas meisinhas e orações, o bichinho foi tomando corpo e ficando taludinho, até que a preocupação geral se desfez.

Geral não, porque a mãe e a avó, a falecida dona Otília não desgrudavam os olhos do pirraia, dia e noite emendado que nem cantiga de grilo.

Claro que ele foi poupado desde sempre dos serviços do campo e com o gado.

Também nunca foi na feira ou na venda despachar uma nota de compra.

Quando terminou os estudos naquele interiorzão, mandaram ele para a capital para estudar, para virar doutor advogado, mas o rapaz achou por bem estudar artes e arranjou não sei com quem uma bolsa de estudos na Europa e, se danou para Paris, onde se matriculou na escola de belas artes de lá.

Os anos passaram, ele se formou e resolveu vir passar umas férias na casa dos pais trazendo uma pessoa para conhecer os seus familiares e a vida no sertão nordestino.

Quando o Cel. Sampaio soube que o seu menino vinha trazendo outra pessoa, organizou uma festança e convidou os conhecidos da redondeza, pensando tratar-se da futura nora.

Bio da Cangalha desde muito pequeno arranjou emprego com o coronel e com ele aprendeu a montar cargas nas cangalhas dos bichos de carga.

Ficou tão bom no ofício que o povo passou a chamá-lo de Bio da Cangalha porque era imbatível na arte de distribuir as cargas entre os animais para que nenhum deles ficasse sobrecarregado.

Antevendo que a bagagem devia ser grande e considerando o peso delas e de mais quatro pessoas, o coronel mandou Bio da Cangalha preparar a carroça de dois eixos e banco duplo, puxada por dois cavalos.

Chegaram cedo e tomaram umas cervejas no bar da estação porque o trem estava, como sempre, atrasado.

Quando o menino desceu do trem arrastando um negão (quase azul) pela mão, falando uma língua esquisita, que precisava fazer biquinho para dizer certas coisas, o coronel ficou com a pulga atrás da orelha.

Nas apresentações, o negão beijou as duas bochechas do coronel e falou um monte de coisa que Teófilo traduziu, mas que o coronel, roxo de vergonha, não entendeu nada.

Mais que depressa, Bio da Cangalha colocou a bagagem na carroça e ganharam o rumo da fazenda.

O coronel e Bio da Cangalha, no banco da frente, mais calados que um coco.

Já os dois no banco traseiro, falavam pelos cotovelos, em francês, com toda modulação que a língua exige.

Em determinado ponto da estrada, Teófilo pediu ao pai que fizesse uma paradinha para ele e Jean Pierre fazerem xixi.

Quando a carroça parou, o coronel disse a Bio da Cangalha que pegasse a espingarda 12 e que, se eles se acocorassem para mijar, atirasse na cabeça dos dois.