NÊGO GATO

Devia ter uns dezessete anos o Nêgo Gato. Moreno baixo, narigudo, gogó saliente. Cabelo ensebado penteado para o lado, e com cara de “areia mijada”. Famoso no bairro pelo tanto que bebia. Feio que dava dó. O apelido de autoria desconhecida, coincidiu com o lançamento de uma música da jovem guarda “negro gato” de Roberto Erasmo Carlos. E em consonância com um verso da música, ambos eram de arrepiar. Pouca gente se lembrava de seu nome, até ele próprio com o passar do tempo atendia mais rápido pelo apelido. Sua mãe no entanto não aceitava em hipótese alguma que os filhos fossem chamados por apelidos. Geralmente ficava muito brava, a ponto de desacatar quem o fizesse.

Rui Chegou de mansinho numa bicicleta, apoiou o pé no meio fio e se dirigiu a senhora que lavava roupa distraída no quintal. --Dona Laura, o Nêgo Gato está? A senhora virou-se para ele após o susto inicial, encarando-o bem e com ar severo respondeu. --Não meu filho, você deve estar enganado. Aqui não tem essa pessoa não. Aqui tem Wildemar, Welson, Wanderley, Washington, Wilderson, Wedson, Walquiria, Waldeci e Wanderléia… mas Nêgo Gato não. Rui sentindo-se desconfortável e sem graça com a mancada resolveu ir embora. – Está bem Dona Laura, é que me mandaram entregar um dinheiro nas mãos do Nêgo Gato, mas pelo que vejo deve ser um mal entendido, ou o endereço não é esse. Até logo e desculpe. A senhora considerando o tempo de vacas magras em que viviam disse: --Espere, a bem da verdade eu ouço os coleguinhas do Welson chama-lo assim, mas o nome dele é Welson Silva Andrade viu. Vou chama-lo, um momentinho. Virou-se em direção à janela aberta e chamou, --Welson... nada, Welsonnnnn... nada, aumentou tom WELSONNN... nada. Rui deu meia volta na bicicleta começando a se afastar. No desespero e vendo o dinheiro escapar, Dona Laura não teve alternativa, correu alguns passos em direção a janela da casa disparou: “Nêgo Gaaaaaaato”. Welson que assistia televisão deitado no sofá da sala levantou de um salto e precipitou-se para o quintal. –O que foi mãe, que gritaria é essa? Rui ouvindo aquela voz conhecida, voltou rapidamente para cobrar um empréstimo que fizera a Nêgo Gato e já vencido há algum tempo. Dona Laura balançando a cabeça disse de si para si: --Esse menino é um caso perdido, não trabalha, não estuda e ainda sai fazendo empréstimo por aí. Quem quiser emprestar que empreste, eu é que não vou pagar...

Al Primo
Enviado por Al Primo em 04/12/2017
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