A OSTRA

Sentados à mesa, todos a postos. Silêncio! A respiração, de cada um de nós, era irrepreensível. Observávamos, atentos, o nosso emproado pai, que dizia ser expert em assuntos culinarísticos. Um velho lobo do mar? A nossa mãe, com cara de quem não gostou sem provar, acompanhava a explicação por ele esmiuçada. Olhou para cada rostinho infante antes de sumir por entre o vai-e-vem da porta da cozinha, para logo em seguida voltar com Maria, sua empregada. Esta trazia, além de uma grande travessa, um risinho crucial no canto da boca. Aquele risinho, chamou a atenção dos intranquilos filhos do pai, dos silenciosos filhos da mãe. Posta a travessa à mesa, entreolhamo-nos sem movermos um feixe de músculo.

— O que eram aquelas coisinhas escuras?... Se come isso?... Como?

Carlos, o mais arteiro, sentiu nojo. Eitel e Rubens, engoliram a gula a seco. Monica, Ingrid, Vina, Cristine e a prima Helena entreolharam-se curiosas. O pai, mais que depressa, pegou entre os dedos a maior, a mais escura, a mais estranha entre todas elas.

— Ostras! Hoje vou ensinar a vocês como se devora uma ostra. .

Risos. O “eca” foi em alto e bom som, pra irmão nenhum colocar defeito. O pai, sério, mais sério que o normal, nos passou uma carraspana completa, de A a Z.

— Tio Arnoldo nos presenteou com este belo jantar, então, nada de resmungos.

Ah, só podia ser coisa do tio Arnoldo!...Tio Arnoldo, primo do nosso pai, era chamado por nós, infantes, de boca rica, por causa dos seus dentes de ouro.

Titio à parte, escutamos as explicações do nosso pomposo pai: ".As ostras abrimos assim, temperamos com uma pitadinha de sal e mais uma gotinha de limão. Façam um biquinho com os lábios para saborear este manjar dos deuses."

— Primeiro o senhor! – respondeu Carlos, o arteiro.

Ostra goela abaixo. O pai, mais rápido que o normal, assim o fez. Parou. Sensação de ânsia. E cuspiu longe aquela meleca de cor nada agradável. Debandada geral. O pai correu para o banheiro, enquanto a mãe finava-se em gargalhadas. Sumimos da vista de Maria, a empregada.

Patricia Essinger
Enviado por Patricia Essinger em 24/08/2007
Reeditado em 31/10/2013
Código do texto: T621929
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