O assassinato

Era noite de um sábado. As luzes da cidade estavam iniciando suas atividades e grande número de pessoas volta para suas casas em busca de abrigo, pois, apesar de ser noite de outono, um pouco de frio fazia.

Naquela casa de cor marrom, chegavam o casal e a filha, pois o dia fora muito longo e o repouso noturno era o melhor de suas vidas.

Em algum lugar da casa, ouviram um barulho diferente, mas não deram a atenção devida. Era um barulho de rotina, um barulho de algo que poderia estar caindo ou alguma ave ou pássaro que entrou janela adentro e procurava uma passagem para sair. Ficaram preocupados, mas não deram tanta importância.

O barulho continuava. Um medo surgia entre eles. Seria um ladrão que roubaria os doces da sobremesa, ou roubaria a carne suína bem frita, que estava sobre o fogão. Seria um gato, pois muitos gatos moravam na rua e estavam ali para usurpar algum alimento, principalmente a carne frita. Seria o cão da família, estando ainda no quarto e não tinha ido para sua casinha no quintal, estaria dentro da casa procurando a vasilha de ração ou algum ossinho da sobra do frango do almoço. Não era nada, nem mesmo o cão estava ali, estava ele bem deitado em sua casinha no quintal. Os gatos das vizinhas não estavam.

O espanto foi total. O que poderia ser? Fantasma, eles tinham medo, porque o cunhado do esposo era escritor e gostava muito de escrever sobre fantasmas, coisas do outro mundo. O passarinho da família estava bem preso na gaiola e não poderia sair, nem mesmo olhar para o lado, porque sua gaiola estava presa à parede e não poderia fazer barulho algum.

Para melhor explicação, o pai do esposo chegava à residência e foi logo perguntando o que havia acontecido. De imediato, ele viu uma sombra locomover-se ligeiramente entre o quarto e a cozinha. Não era muito grande, mas media uns vinte centímetros e corria entre os móveis da cozinha, passando pela sala de jantar, saindo e transitando velozmente para o outro quarto.

Seria o fantasma disfarçado entre a figura de algum animal em fuga. Seria, também, uma sombra visível somente aos olhos dos habitantes da casa?

- O que poderá ser isto, dizia o Sr. Geraldo, um sujeito alto, de cabelos penteados para os lados, que usava óculos grandes.

- Não sei, dizia o morador da casa. Deve ser algo tão estranho que me sinto inútil e estou sem coragem para tentar ver o que será.

Em um dado momento, com uma voz estrondosa, muito forte, que enchia a cozinha de um som todo grave, o morador da casa, o Sr. João, com um cabo de vassoura nas mãos, sua esposa com rodo e a menina, que estava a cima do sofá, ouviu-se um grito:

- Eu mato, eu mato...

Vários gritos foram ouvidos, com a expressão acima e vários barulhos de vassouradas, de pauladas sendo tocadas no chão daquela residência.

Os vizinhos, muito curiosos, começaram a sair de suas residências. Uns com cochichos, outros portavam seus aparelhos celulares nas mãos e consigo mesmos perguntavam entre si o que poderia estar acontecendo.

Os gritos, mais altos, mais estrondosos, eram só:

- Eu mato, vou matar você...

Uma vizinha, a mais anciã da rua, andando agachada, com sua bengala em uma das mãos, sendo amparada por sua neta, dizia:

- Meu Deus, o que está acontecendo nesta casa. Os vizinhos daqui são muito bons. São educados comigo, dão apoio a mim. Quando preciso, levam-me de automóvel ao médico, ao banco e às compras. Será que eles estão loucos, estão brigando entre si. Será que o João está querendo matar a esposa. E a menina?

- Não sei não, dizia a vizinha Margarida. O clima aqui está tão quente. Estou ouvindo os gritos de morte. Preciso agir rápido, antes que aconteça uma tragédia.

- E melhor ligar para a polícia. Deve ser assassinato premeditado. Imagine, ontem, por volta das onze horas da noite, eu ouvi o João gritar alto, parecia estar brigando com a mulher dele. Eles sempre discutem, mas partir para assassinato é coisa muito séria.

- Vamos, não perca tempo. Ligue, imediatamente, para a polícia, porque temos a obrigação de não permitir que uma alma vá embora desta casa.

Os gritos, a cada instante, aumentavam, ao mesmo tempo em que o som das pauladas por todo canto. Eram na sala, na cozinha, no sofá, nos quartos. Até ouvia-se, mais forte ainda, porque o Sr. Geraldo gritava com todo estrondo:

- Vamos, não perca tempo, mata. Dê mais uma paulada.

Um choro da menina, outro choro e gritos.

Dona Zenaide, a senhora anciã, não poupou tempo. Pegou o celular e ligou imediatamente para a polícia, que imediatamente chegou com as sirenes ligadas.

- Pronto, matei, dizia Geraldo em tom de vitória.

- Mãos para o alto, dizia o Sr. Policial, o senhor está preso por assassinar...

- Mas, assassinar o que?

- Um rato, dizia o Sr. Geraldo, em tom de risos e exibindo um grande rato, que acabara de matar na casa de seu filho.

JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO
Enviado por JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO em 13/05/2018
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