Conto por dedicar grande afeição ao João, meu irmão

Dizem os antigos que, num lindo dia de sol de inverno, com o ar frio pelo vento vindo do sul, aparece uma borboleta prateada para os que se aventuram nas trilhas mais quietas. Muitas são as histórias de quem a vê. Uma delas, ouvi da boca do João, meu irmão. Dele jamais duvido. Por ele, me arrisco a relatar. Contou-me que, enquanto andava um homem na estrada do bairro dos Almeida, numa certa altura do caminho, sem moradas por perto, foi surpreendido pelo encanto do voo ao vento, de uma borboleta branca, cor de prata à luz do sol, que lhe apareceu do nada. Acompanhou à frente do sujeito, voando para lá e para cá por centenas de metros, quando pousou sobre uma porteira, antes da encruzilhada. Chegando mais perto, ela voou para dentro daquele sítio. O homem abriu a porteira e continuou a seguir a borboleta até chegar numa cachoeira. Ficou enevoado pela visão da graça daquele ser. O local também tinha enorme beleza e um feitiço natural: o riacho dos pontes despencava com força, formando um vasto poço, rodeado de mata nativa em meio aos amplos paredões de pedra. Muitos pássaros em revoada à beira d'água. As andorinhas beliscavam o riacho para depois subirem aos céus. Contou então que o homem viu a borboleta posta numa pedra no meio do córrego. Não se moveu dali, só apreciou. Distraiu-se um tanto na beleza do recanto. Um forte som de água despencando nas rochas preenchia aquele ambiente. Os moradores da imediações sempre contaram as muitas visões que se tem em volta dessa cachoeira. Um arrepio. Repentinamente, ela sumira e, ao redor da pedra que ela antes estava inerte, viu-se agora um brilho diferente, que ele julgou ser lata ou, quem sabe, prata. Foi até lá, no riacho, mais de perto ver o que era. Enquanto olhava, ouviu uma voz mansa de mulher, olhou para os lados, não viu ninguém, mas guardou bem suas palavras:

– Pega essa prata e coloca no fundo do teu embornal, mas abre apenas quando chegar ao teu destino – disse a voz, realçando a palavra destino com ternura, em silabas separadas de propósito.

O homem voltou ao seu caminho, mais que depressa por assustado com a aparição daquela voz, contudo, sempre com os olhos colocados no seu embornal. Esqueceu-se até da borboleta. O caminho era longo ou talvez não tão assim, mas o homem movido pela curiosidade, não conseguia deixar de sentir o peso do que levava, enquanto pensava na riqueza que carregava. Quando ia já na metade de seu destino, só pensava em prata, prata e mais prata. Enfim, trêmulo e curioso, abriu o seu embornal. Não foi prata o que achou. Do seu embornal lhe sobrevoaram centenas de borboletas reluzentes num céu azul de inverno.