Alto Paraguassu: Congregação Asa Delta!

A Escolas Reunidas São João Batista

Depois já em Rio Negro-Paraná, o Jardim de Infância dentro do Exército, com o detestável e cascudo mingau de aveia diário. Mudo para a Escolas Reunidas São João Batista, em Santa Catarina no Lugarejo de umas 50 casas no Alto Paraguaçu. De cara um colégio bem grande ao lado da descomunal Igreja de Santo Estanislau, a maior da América Latina construída pelos Poloneses!

Foram 4 anos maravilhosos, a começar pelas cestas de ovos de Páscoa, cada uma com o nome de um aluno. Escondidas no domingo de madrugada nos jardins do colégio, quem achasse uma gritava, e era rodeado de olhos curiosos para saber quem era o felizardo. Os que já tinham sua cesta, ajudavam na procuradas das que faltavam, só que deliciando-se das maravilhas maravilhosas!

Já no 2º ano entrou meia dúzia de pestes, (havia pouco rodízio pois o aluno fazia da 1ª a 4ª série) e acabou com nossa alegria.

Enquanto achavamos as deles e entregavamos intacta, os patifes escondiam boa parte dos chocolates das nossas, antes de gritarem nosso nome.

Por causa disso no 3º e 4º ano não tivemos mais cestas.

Frio razoável o ano todo, quando a temperatura caía mais que "perereca" (dentadura) de velho, havia uma correria de manhã para ver quem chegava 1º no poço, para largar o balde e vê-lo quebrar o gelo!

As irmãs usavam uma espécie de chapéu, cujo desenho aerodinâmico no formato de um aviãozinho de papel, faria inveja a Niemayer!

Bola rolando, a sisuda Diretora resolve passar pelo meio do campo, equilibrando na cabeça sua espécie de "asa delta".

A "Patada Atômica" de um Horrível Lino, acerta-a e ela voa a uns 3 metros distantes. Gritaria infernal enquanto víamos a careca máquina 0 da Diretora!

Por 2 dias a dita cuja enclausurou-se, e pela porta entreaberta do dormitório, podíamos vê-la rezando. As cobras peçonhentas acompanham minha vida, e neste colégio por 3 x estive a 1 metro delas. Na 3ª vez estavamos limpando um terreno, e eu jogando uns galhos de cedro para o lado. Nisto pego um galho e grito:

Uma cobra e jogo-o violentamente. Ele vai para um lado e a cobra voa em direção ao rosto de Irmã Alice. Ela inclina velozmente o corpo, escapa da cobra mas libera sua "asa delta" para um lindo vôo!

Outra gritaria descomunal e lá vai Irmã Alice para a clausura.

Era incrível porém aterrorizante, a quantidade de animais selvagens que rodeavam nosso colégio. Assim ir ao banheiro, (ficava lá fora a uns 200 metros do dormitório) de noite ou de madrugada fazia-nos sentir um Robison Cruzoé.

Vi um senhor pegar um viado com as mãos, já bastante cansado da perseguição por quilômetros dos cachorros dos caçadores. Ver os girinos transformando-se em sapos dia após dia, comer Ariticum de sabor fantástico, pescar dezenas de peixes nos tanques, (represas) que moviam gigantescas rodas de moinho, que acionavam imensos pilões dos sítios que visitavamos, é deveras inequecível!

A visita do Inspetor era um Salve-se quem puder!

Os "esfumaçados" (garotos que só tinham um uniforme e portanto secavam-no em cima do fogão de lenha) eram dispensados. Demos sorte, pois o Inspetor era carioca e ao ver-nos naquele fim de mundo, presenteou ao colégio com um barril de leite em pó!

Poderia ficar horas escrevendo mas vou encurtar:

Certo dia aparece na cidade 3 padres Fransciscanos, muito alegres, que resolvem passar filmes de aventuras. Num contra-senso passam um filme da 2ª Grande Guerra Mundial, visando catequisar-nos contra as atrocidades nazistas.

E lá vem um tanque nazista, rasgando a neve do que seria uma rua, quando de repente, de um valão lateral, saí um soldado aliado escala o tanque rapidamente, abre o tampão de entrada e joga lá dentro uma granada. Fecha o tampão, salta enquanto o tanque se desgoverna e parte para cima do valão.

Meia dúzia de soldados saem desesperados do valão, ante a possibilidade de serem esmagados, mas um não saí a tempo e a lagarta da roda passa pelo meio do seu corpo, afundando-o na neve!

Finda a passagem ele se levanta, abre o uniforme e vê-se gigantesco fecho éclair desenhado no seu peito e barriga. Ouvi-se risos e Psssius dos frades.

Outra cena:

Aliado preso a uma pilastra numa sala, e uma fila de mulheres passam por ele, xingam, cospem e dão tapas no seu rosto.

Algumas risadas e mais Pssius dos frades pedindo silêncio!

Aí vem a gota dagua:

Aparece gigantesco bote de borracha com lotação para umas 30 pessoas. Vem a 1ª turma, uns 20 gritando desesperados, bombas ao fundo explodindo. Enchem o bote rapidamente mas há espaço, e lá vem mais 20, á frente uma "baleia" de uns 120 kilos. Ouve-se risos e ela é logo ultrapassada pelos mais leves. Barco cheio, poucos remos, desloca-se lentamente dando tempo a ela e mais uns 5 de agarrarem-se ao bote.

Remadas e empurrões não consegue demovê-los e na tentativa de entrarem, afundam o barco!

A molecada cai na gargalhada e os frades findam a projeção.

Foram embora, mas deixaram registrado sua passagem. Poucos meses depois, caiu-me nas mãos, revista com dezenas de fotos das atrocidades nazistas. Nunca mais esqueci!

Vale registrar esses nomes que ficaram na minha memória:

Irmã Alice, 20 e poucos anos, alegre e simpática, Irmã Edwiges, 80 e poucos anos, nossa dedicadíssima professora de Artes Plásticas.

Elizabeth Willrich, meu 1º amor, e Vera Lúcia Regina dos Santos, a 1ª pessoa com 3 nomes próprios que conheci!

E Padre Vítor, simpático fotógrafo!

Link do texto com fotos:

http://www.overmundo.com.br/overblog/adeus-escola-meu-mano-berimbau-ta-me-chamando