Roberto e Edileusa foram muito jovens para Nova Iorque, com o intuito de construírem a vida naquela cidade. Enfrentaram grandes dificuldades no começo, mas depois de alguns anos a sorte começou a dar o ar da graça. Conseguiram comprar o primeiro restaurante, e em pouco tempo tinham vários. Envolviam-se diretamente no trabalho, Ela gerenciava o  mais movimentado e ele percorria os outros pois não podiam ficar sem a presença do dono. Tiveram dois filhos, porém a vida familiar ficou em segundo plano devido ao ritmo frenético com que se dedicavam às atividades comerciais. Namorados desde a adolescência, tinham muito amor e carinho  um pelo outro. No entanto aquela correria começou aos poucos a afasta-los. Iam para casa em horários diferentes, ainda tinham que cuidar dos filhos, começou a sobrar pouco tempo para os dois. Como o satanás costuma atuar nessas brechas, Roberto começou a ter um caso com a garçonete  de um de seus restaurantes. Aos poucos foi ficando descuidado e inconsequente  e bobo, como a maioria dos apaixonados. Saía no começo da noite e ia para a casa da amante. Após embates amorosos era natural que tivesse fome e num acesso de burrice e avareza, pedia comida de seu próprio restaurante. Não demorou para que a telefonista ligasse os fatos, e movida pelo corporativismo feminino compartilhasse suas suspeitas  com a patroa. Edileusa ferida em seus brios pediu a "amiga"  para avisa-la do próximo pedido. Na semana seguinte surgiu a oportunidade. Então, saindo de seu posto, Edileusa pegou a pizza solicitada, entrou no carro e foi fazer a entrega. Não era muito distante, chegou em cerca de dez minutos. Saiu do carro, fazia muito frio, sua respiração ofegante pela raiva e pela ansiedade condensava e formava nuvens de vapor. "Pizzaria" disse ela ao interfone disfarçando a voz, e ouviu o estalido da fechadura. Entrou pelo corredor mal iluminado daquele prédio antigo. Teve um instante de dúvida e quase desistiu não sabia se estava pronta para enfrentar o que viria pela frente. Parou ao pé da escada, respirou fundo, empertigou-se, subiu resoluta os três lances e em segundos estava diante do apartamento 301. Desfez-se de toda a dúvida e apertou  a campainha. Aquele "dim dong" iria mudar sua vida por completo. A porta se abriu devagar, e seu marido de roupão de banho parou na sua frente. De olhos arregalados e pálido como cera ficou mudo. Ela reconhecendo o roupão que lhe dera de presente de aniversário, animalizou-se, Deu-lhe com a pizza na cara acrescido de vários bofetões e gritava "canalha, você não presta, cachorro"  e entrou pelo apartamento procurando aquela "vagabunda" para arrancar-lhe os olhos. o Resto da briga não importa, mas acabou na delegacia. Roberto saiu dali convencido de  não valia a pena. Levaram meses para se reconciliar. Diminuíram o ritmo de trabalho e passaram a olhar mais um para o outro, e para a família.  No entanto, quando se rompe o elo de confiança é como cristal partido, não cola mais. Estão juntos até hoje, mas ambos têm consciência que não é mais a mesma coisa.
Al Primo
Enviado por Al Primo em 06/12/2018
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