A seita ou aceita (que dói menos)

Alice nasceu numa comunidade onde a mulher tinha o papel de coadjuvante em relação ao homem. Nada naquele lugar poderia ser feito sem o aval deles.
Era uma espécie de tribo, onde o "Cacique" era uma figura estilizada, em madeira, de grande estatura, com a boca gigante e ouvidos minúsculos. Todas as noites de Lua Cheia o povoado se reunia para prestar homenagens ao "Deus Poderoso" que nominavam Hominis.
Alice nunca aceitou aquela condição em que nasceu. Desde cedo foi posta à esquerda pela sua família, era tida como “menino homem”. Queria fazer as suas próprias rotinas, aprendeu a ler, escrever, criar, pintar, caçar. Corria contra o vento. Mas Alice jamais foi compreendida: Era uma desobediente que só queria transgredir normas.
Alice nunca foi desejada por aqueles que gostariam de constituir uma família "tradicional". Sempre vista como uma aberração por todos, resolveu se safar daquela história: Acordou cedo, antes de todos, arrumou sua bolsa e saiu à procura de uma barco que a pudesse levar para longe daquele lugarejo. Avistou uns pescadores e pediu ajuda. Mas eles se entreolharam e negaram; - Não é dado à Mulher o direito de sair do seu Ninho. Limite-se à voltar para o seu Lar. Vamos denunciá-la ao Mestre Soberano. (E assim fizeram). Com sinais de fogo mostraram onde estava aquela mulher que seria castigada.
Alice voltou para casa e como castigo recebeu a sentença da privação de liberdade (como se já não a vivesse). Ficou presa em um calabouço, onde não podia ver ninguém. Resolveu escrever pelas paredes afim de que o tempo passasse. No dia da soltura, a sua arte virou uma mensagem do demônio. A prenderam de novo, a torturaram e a fizeram jurar até a morte que "A Seita" não era pra Mulheres tipo homens e que a sua desobediência que custaria a vida.
Em silêncio, enquanto partia para o sacrifício, olhou para aquela multidão que a observava e chorou pela primeira vez, ao menos naquele dia, teria um minuto de liberdade... Não morreria, descansaria: aceita que dói menos!
Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 14/03/2019
Reeditado em 16/05/2019
Código do texto: T6597550
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