Voltando para casa

Voltando pra casa

Naquela época eu estava com 15 anos, pulando para os 16, estava voltando pra casa, deixava pra trás a cidade grande, Governador Valadares, e voltava de vez pra minha pequenina São Félix.

Foi um ano estudando e trabalhando em Valadares. Durante o dia eu trabalhava em uma alfaiataria, fazia calças, bonitas calças, e a noite eu estudava no Colégio Ibituruna, segundo ano Ginasial.

Passei para o terceiro ano e voltava de férias para casa. Só tinha um ônibus para São Félix, o mesmo que tinha chegado as 11 horas da manhã. A volta era as 16, 4 horas de viagem, estrada de barro e as vezes bem esburacada, e se chovesse atolava, um sufoco.

Eu estava feliz, com saudades de casa, da minha terrinha, mas voltava sabendo que não voltaria mais para o Colégio, voltava para assumir o lugar do Renato que estava de partida para o Rio de Janeiro, ia sentar praça, era como o povo falava, quando alguém ia servir ao exército..

Sentado naquele banco de ônibus eu, de olhos fechados curtia em adivinhar onde estava passando, conhecia cada palmo daquela estrada, sabia cada parada que o ônibus dava, mesmo com toda a algazarra dos passageiro da única condução lotada,muitos passageiros de pé.

Quando a velocidade diminuía, era sinal que estávamos entrando no cruzamento que separava São Félix de Mendes Pimentel. Nesse momento meu coração batia mais forte, uma alegria já tomava conta de mim, estava perto, só mais 18 km para chegar, todo o povo ficava mais ouriçado, gargalhadas de alegria ecoava.

Lentamente, pulando muito o Águia Branca avançava no meio daquela estradinha de barro vermelho e cascalho.Seguia buzinando, em cada curva, a buzina avisava que tinha veículo na estrada, vai que de repente um outro carro viesse em sentido contrário.

A estrada mal dava pra um, onde tinha que passar dois, e era curva a dar com pau, tinha até uma curva chamada de curva da ferradura, por causa de sua semelhança a uma ferradura de cavalo..

Eu continuava de olhos fechados sentindo cada curva que faltava, cada fazenda que ficava pra trás. Sabia de tudo, sabia em que ponto eu estava, qual o sitio que eu passava, a serra que estava subindo, a reta e as descidas.

Finalmente, uma subida longa com uma curva à direita em seguida uma descida e depois mais uma quebrada pra direita e a buzina acionada, desta vez bem longa, era pra avisar ao povo que o Águia Branca estava chegando e dentro do horário. Fazenda da dona Tunia, outra curva entrando no município de São Félix, o bicho ia buzinando rua acima, estava na hora de abrir os olhos e apreciar a minha simpática e alegre cidade. Devagar o Águia Branca ia passando pela rua principal, á esquerda pela janela eu via o campo do Vasquinho lá em baixo, mais na frente a escola e acima o cemitério e o campo do Fluminense. Lá estava a árvore grande onde eram amarrado os bois e as vacas que eram abatidas pelo açougueiro local. Na descida da rua à esquerda a farmácia do Artevele, na direita o cartório do seu Laureano e a casa do seu Jarito e dona Alice, pai e mãe do Geraldo, do Walter e da Miréaa Brandão, grandes amigos, Naquela casa sempre tinha um café com bolo de fubá para mim, se eu demora a aparecer dona Alice reclamava.

. Mais um pouco e eu via o terreiro de secar café do Chico Ticha, avô do Zé da Lelê e da minha amiga Graça. Bem ao lado de nossa casa quase em frente da Matriz da Igreja católica, ao lado da rua da marcenaria da família Machado.

Pronto o Águia Branca estava parando bem no centro da cidade, ao lado da venda do Joaquim Minguito, a loja do Carrinho Alemão, que depois virou seu Pedro da loja, bem ao lado da padaria do meu avô, Antônio Espanhol que tinha em frente a alfaiataria do Nelcy ao lado da loja do papai. O ônibus parou por completo e abriu as portas, na calçada e na rua o povo se aglomerava para ver quem estava chegando, alguns aguardando os familiares, outros por pura curiosidade, afinal a chegada diária do único 'buzão' era uma atração e tanto, talvez a única do dia.

Meu avô, como sempre estava ali apreciando a chegada, meu pai também estava me esperando ele sabia que eu viria naquela tarde.Desci as escadas e ele me abraçou, mas não me beijou, naquele tempo não tinha essa frescura, pai não beijava filho macho, uma pena que era assim, no máximo um rápido abraço e alguns tapas nas costas.

Rio23032019

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José Américo
Enviado por José Américo em 19/04/2019
Código do texto: T6627714
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