Fazenda Santa Barbara – Nós foi compra!

Esta fazenda foi comprada em 1981. Nas nossas andanças, à procura de terras, chegamos nessa fazenda lá pelas dezesseis horas. Demos uma olhada na topografia, divisas, águas, qualidades das terras e fomos pra sede. Assim que chegamos, uns garotos saíram pra nos receber e dizer que a vovó já vinha. Estávamos saindo do carro quando surgiu na porta da casa feita de adobe, portas e janelas rústicas aparelhadas à machado, uma senhora alta, esbelta, cabelos amarrados, muito branquinhos, roupas de roça, mas bem lavadas e passadas, nos disse:- pois não, estão à procura de gado para comprar?

–Não senhora, estamos querendo comprar umas terras.

-Pois essa aqui eu tô pensando em vender, vamos chegar.

Entramos depois de nos apresentar, ela foi logo dizendo que era viúva, tivera treze filhos e que a fazenda tinha se tornado pequena pra sustentar toda aquela gente. Perguntei quantos alqueires era a fazenda e quanto ela queria.

-Bem, a fazenda tem cento e tantos alqueires goianos e eu quero trinta milhão nela.

Eu retruquei: - Não Dna Estela, não vale isso tudo não.

Ela levantando-se da cadeira, pegou um bule de café de cima do fogão, as canequinhas e nos serviu.

Enquanto nos servia o café, seus neurônios já meio cansados pelos seus noventa e sete anos, estavam fazendo a avaliação para venda mesmo.

–Olha Paulista, o preço que eu quero mesmo é quinze milhão.

Bom, aí já estava até abaixo do valor real da região, foi só tratar o modo do pagamento.

-Pago cinco na entrada mais duas parcelas de cinco com seis meses e um ano. Ela disse

- Ocê me paga então mais quinhentos contos em cada parcela.

- Fechado.

Marcamos a documentação para uns dez dias pra frente, tempo que teríamos para vir pra São Paulo, arrumar o dinheiro e o tabelião. Dormimos em Ipameri, agendei com o tabelião para o tal dia, tudo certo.

Chegando a data marcada, passamos em Ipameri, o sr Waldomiro já estava com as certidões prontas, lá fomos pra fazenda. No caminho ele nos explicou que aquelas terras tinham pertencidas aos pais de dona Estela e estava tudo em ordem a documentação.

Quando chegamos na fazenda, umas três horas da tarde, parecia que ia ter uma festa. Estavam lá, os filhos, genros, noras, netos, bisnetos, mais de cinquenta pessoas. Toda aquela gente nos abraçou e não sabiam o que fazer para nos agradar. Tinham acendido uma fogueira, pois não tinha energia elétrica na propriedade. O sr Waldomiro foi logo começando a escrever o que eu achava que fosse um simples contrato; não, era a escritura definitiva.

Enquanto ele lavrava a tal escritura, à mão; começamos a conversar e fomos conhecendo melhor aquela gente simples, trabalhadora, honesta, e alegre. Nas conversas ficamos conhecendo os filhos de dona Estela, todos eles tinham suas terras, gado, etc. Moravam todos ali na região mesmo, menos o Tunico, que tinha ido pro norte de Goiás.

Tunico era muito engraçado no jeito de falar.

– Ói paulista, eu fui lá pro norte de Goiás, oh povo bão, me dei bem lá sô! Daí ele contou um pouco da estória dos pais dele:

- Papai casou com mamãe, brigaram no primeiro mês e ficaram de mal a vida toda. Mamãe ficou aqui na sede e papai fez um barraco lá na outra ponta da fazenda e lá morou até morrer.

Um de nós admirou e perguntou,

- Mas vocês não são em treze irmãos?

O Tunico com a maior simplicidade

– Então, mamãe arreava o cavalo e saia campiá; papai arriava o cavalo lá no barraco e saia campiá tamém; eles se encontrava no serrado, nós foi nascendo!!!

Luiz Antonio Piccoli
Enviado por Luiz Antonio Piccoli em 20/04/2019
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