Tremendo era a cidade em que vivia Raimundo. Apelidado de Jiló desde o nascimento, nem seu nome lembravam. Morava num barraquinho, de propriedade de uma organização religiosa, desde que sua esposa partiu. Nunca aceitou o veredicto da morte, fugindo até do velório. Era conhecido por ter hábitos estranhos: passava o dia em casa e a noite ia dormir no cemitério, sobre a cama improvisada, na sepultura (que construiu com as próprias mãos) e mantinha como sua casa. Lavava, colocava tapete, pregava quadros e enfeitava com flores. Fazia suas orações e dormia, feliz, ao lado da amada. Por ser um local ermo e pelo temor da maioria das pessoas em relação aos mortos, era o lugar preferido dos “namoradinhos”, que promoviam a ascensão dos seus hormônios em erupção: esconderijo perfeito. Numa sexta-feira à noite, Francisco, neto do Oscar (vizinho do cemitério), que mora na capital, foi levar sua “amiguinha”, que veio para o feriado, pra lá se assanhar, no muro em que Jiló se recostava. Respiração ofegante e sussurros de amor de Elena, até que Jiló, querendo dormir, decidiu pregar uma peça: ligou seu radinho de pilhas na AM 1020, Rádio Vida e falou em tom assustador: Ajuda aí! Ajuda aí! Quero sair logo daqui! Salvem-me. Os dois, com os botões semi-abertas, correram até a casa paroquial próxima, e disse ao padre que quis saber o que faziam lá, e eles disseram: fazendo oração pelas 13 almas. E o padre sarcástico disse: - É elas responderam, filhos. Não voltem mais lá e rezem 13 ave-marias, diariamente. E o Jiló do cemitério, o padre não revelou.

Desafio Bviw - Tema: Ajuda aí. 18 linhas 2 mais)
Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 18/06/2019
Reeditado em 18/06/2019
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