TERREMOTO DURANTE A GUERRA

(Continuação de BARRAGEM QUASE ESTOURADA)

Seu Olegário esvaziou o copo de cerveja e sem demora deu início à narrativa sobre o terremoto.

- Olhe Marculino, eu sempre fui um homem destemido e quando soube que o resto do mundo estava se juntando para dar fim àquela guerra desgraçada que já tinha matado um horror de gente, fiz questão de me alistar.

Fui um dos primeiros brasileiros a partir para os campos da Itália onde eu tinha bons amigos de longas datas e se eles estavam passando por um perrengue que precisavam de ajuda para resolver, não era de se esperar outra coisa de minha parte se não ir o mais rápido possível para lá.

A Itália é um canto onde vez por outra tem terremoto, como as cidades são pequenas, muito antigas, as casas geralmente feitas de pedra, com pouca gente morando, nem sempre se fica sabendo se morreu muita ou pouca gente por causa desses terremotos, mas tem muitas igrejas antigas, dos tempos dos primeiros cristãos e onde os santos, quando estavam vivos, faziam as pregações.

Você sabe que eu sou devoto de São Francisco e estava exatamente na região de Assis, que é o arruado onde ele nasceu e que ainda tem a igreja que ele fazia as pregações.

Pois bem, foi exatamente nessa região que se deu o terremoto.

Foi terremoto dos grandes, daqueles que derrubam tudo e abrem até buraco no chão.

Naquele tempo já tinham feito uma igreja grandona em volta da capela onde São Francisco fazia as pregações dele.

É uma capela pixitotinha que estava caindo aos pedaços quando o santo foi lá e fez a restauração, recolocando pedra por pedra no seu devido lugar.

Ora, eu como devoto do santo, não ia admitir de jeito nenhum que um terremotozinho qualquer destruísse ela.

Juntei uns dois cabras de confiança, arranjamos umas estroncas grandes e pesadas e fomos lá escorar a igreja grandona que estava por um triz para cair em cima da pixitotinha.

A gente estava quase terminando o serviço quando deu outro terremoto, mais forte do que o primeiro, os cabras ficaram com medo, me deixaram sozinho, mas eu sustentei nas escoras e com uma força que desconhecia em mim, acho que foi a força da fé, aprumei a igrejona e ela ainda está lá em pezinha para quem quiser ver.

- Seu Olegário, tão chamando o senhor lá na padaria de seu Louro.

- E o que é que querem comigo, Zezinho?

- Sei não senhor, só mandaram chamar.

- Marculino, meu filho, anote essa despesa aí que eu volto outro dia para pagar e prosear mais um pouco...