Quico, O 'Rei do Pedaço'

Em meados do século passado existia uma antiga fazenda bem lá no meio da Serra do Caonze, quase na altura do meio de uma estrada de terra batida, que terminava no alto da serra, em uma outra fazenda, chamada São Felipe.

Já naquela época elas possuiam energia elétrica, que era gerada lá mesmo em uma pequena usina que utilizava as águas de um ribeirão que cortava a propriedade.

Apesar da modernidade já ter 'dado as caras' por lá, ainda havia um grupo de homens que eram conhecidos como 'caçadores', sendo que as caçadas nos finais de semana era uma velha tradição daquela região, onde existia uma grande variedade de caças, como; macacos, antas, porcos-do-mato e também grande aves, como por exemplo o jacú, sendo que eles costumavam organizar as suas caçadas sempre nos finais de semana. Todos eles possuiam as chamadas 'espingardas', com as quais abatiam suas presas. Alguns deles tinham a fama de serem os melhores caçadores; seu Manoel Cezário era um deles.

Seu Cezário era o administrador daquela fazenda do meio da serra, que era um verdadeiro paraíso onde; de um lado corria um grande ribeirão de águas límpidas, cheio de camarões, lambaris, acarás, bagres e maria-moles, que fazia a alegria da garotada, sendo que do lado oposto existia um imenso pomar com uma grande variedade de frutas, desde as simples bananeiras até as então sofisticadas macieiras.

Seu Cezário vivia ali com a sua esposa, a dona Justina e seus sete filhos. Ele era um excelente administrador, mas o que ele mais gostava mesmo era de participar das caçadas nos fins de semana.

E foi depois de uma dessas caçadas, que sempre terminavam já ao anoitecer, que ele trouxe de presente para a sua esposa um filhote de macaco. Era um pequeno macaco bugio, muito comum lá pelos lados de onde a mata era mais fechada.

Mas junto com o macaquinho, veio também uma história muito interessante; disse ele que quando viu aquele bando de macacos nos galhos mais altos das árvores, apontou para aquele que lhe pareceu ser o maior deles e com um único e certeiro tiro o derrubou. Só que quando se aproximou dele, viu que não era ele; era ela... Era uma macaca que trazia, agarrada em seu pescoço um filhote. Ele se lamentou de ter acertado em uma fêmea, ainda mais com um filhote...

Mas o que mais o impressionou foi o gesto que ela fez, quando dela ele se aproximou; ela tirou lentamente das suas costas o seu filhotinho e o levantou em sua direção, como se o estivesse entregando a ele, enquanto que com seus olhinhos lacrimejantes ela o fitava fixamente nos olhos enquanto dava o seu último suspiro... E ele saiu dali levando aquele filhote, simplesmente arrasado. Os seus amigos de caçada também ficaram todos tão penalizados, que nenhum deles queria levar aquela caça para casa.

Seu Cezário ficou com o filhote. E por um bom tempo ele não quis participar das caçadas. prometendo a si mesmo que não comeria mais carne de macaco.

Mas quem acabou ficando muito contente com aquele 'presente' foi a dona Justina. Ela gostou tanto, que acabou colocou o macaquinho para dormir em uma pequena rede, que armou dentro do seu próprio quarto, criando ele com tanto carinho que até parecia ser a mãe adotiva dele; era Quico prá cá, Quico prá lá...

Ele era também o único macaco que podia frequentar aquele imenso pomar; que se tornou um dos seus lugares preferidos...

E foi assim que em pouco tempo o pequeno Quico acabou se tornando o 'rei do pedaço'.

ERCalabar
Enviado por ERCalabar em 24/06/2019
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