Padre Daniel e o Natal

Construção de Igreja é coisa sempre demorada. Requer paciência e sabedoria para conduzi-la.

Padre Daniel, pároco de uma cidade do interior, pensou em aproveitar a celebração do natal para estimular a campanha em prol da construção da nova Igreja Matriz e resolveu pedir ajuda a um homem muito rico que morava na cidade, e que, embora católico, raramente ia á igreja.

-Olha Padre, se o Senhor conseguir fazer uma pregação a partir do que vai ver em minha casa, relacionando com o natal; eu prometo ajudá-lo a terminar a sua igreja, disse o homem.

Padre Daniel ficou empolgado. Mas o seu entusiasmo durou pouco, pois a secretaria; Dona Marieta, o informou que aquele homem rico se declarava ateu convicto e já havia um certo tempo tinha abandonado a Fé Cristã diante do Deus Dinheiro. Havia triplicado a sua riqueza, e a sua maior felicidade consistia em consumir e desfrutar a vida.

O padre marcou a visita e procurou saber da vizinhança o que havia na casa dele...

O açougueiro que entregava encomenda em ocasiões especiais, disse que tinha lá uma árvore de natal gigante e super iluminada e também um Papai Noel enorme, na área de entrada.

-E presépio, tem algum, o senhor não reparou?...

-Olha Padre, não quero desanimar o senhor, mas dizem que o homem é ateu, ele até deu todas as peças do presépio para a Zefa, que trabalha na casa dele como doméstica.

No dia combinado, á noitinha, Padre Daniel, concentrado na ação do Espírito Santo seguiu para a casa do ricaço que o esperava no portão.

-Seja bem vindo Padre, estou aqui com minha a minha família e outras pessoas da minha idelogia; eles também são ricos, e quando falei do nosso desafio eles gostaram da idéia e disseram que também vão ajudar se o Senhor conseguir falar de Deus ou da Bíblia, a partir do que vai ver na minha casa.

No jardim, por trás do alto muro, havia uma gigantesca árvore de natal, toda iluminada. Logo de início o Padre Daniel fez o aquecimento do sermão: - Que coisa linda, essa árvore de natal que fala de Deus por si mesma, nem precisaria eu dizer mais nada...

-Oh Padre, não adianta tentar enrolar não; nessa árvore de natal não tem nenhum anjinho ou santinho pendurado; só bolas vermelhas e todas essas luzes, e como disse um amigo me: - Esta é uma árvore pagã... Concluiu o homem, rindo muito.

Padre Daniel respirou fundo e prosseguiu o sermão já começado: - Árvore de natal significa Árvore da Vida; Árvore do Nascimento, isso nos leva ao Livro do Gênesis, à criação do homem e da mulher...

-Desculpe interromper Padre, mas essa árvore do EDEN que o senhor fala foi que levou o homem á morte do pecado, acabando a amizade entre ele e Deus; é a árvore da discórdia e da mentira, acho que o senhor errou o alvo.....

-Não senhor! E quero parabenizá-lo por ter ajudado no meu sermão, a falar de Deus... A história da salvação passa por esses dois homens, duas mulheres e duas árvores: a do paraíso e a do calvário onde morreu Jesus....

-Opa opa opa, espere aí padre... Que eu saiba, Jesus morreu foi em uma cruz e não enforcado em uma árvore, o senhor deve estar confundindo com aquele rapaz chamado Judas... Todos caíram na risada.

-Pois é você falou bem... Mas por acaso a cruz era de plástico ou de cimento? Não!... A cruz era de madeira e a madeira era da árvore... Em suma; no lenho da cruz, da verdadeira Árvore da Vida, pendia o fruto que ao contrário da maçã a que você se referiu; curou e salvou o homem, ao ser comido... Certamente o senhor ainda se lembra do que se diz na missa: “Isto é o meu corpo, este é o meu sangue”...

A essa altura as pessoas já não riam mais; estavam começando a ficarem sérias...

Pois é meu amigo, continuou ele; o mundo estava às escuras, nas trevas do pecado e de repente, precisamente nessa Árvore da Vida, que é a Cruz do Senhor Jesus, nasceu a Luz da Salvação para todos os homens; a Luz veio para os seus, mas os seus não a receberam. Mas vejo que o senhor crê na Vida que Jesus nos trouxe, porque encheu a sua árvore e a sua casa todinha com essas mil luzes muito lindas que nos remetem a João: “Eu sou a luz do mundo, quem me segue não anda nas trevas, mas na Luz”.

Já meio sem graça, porque o Padre Daniel ia tomando gosto pelo sermão, o homem rico comentou irônico: - Olha Padre, eu nunca tinha olhado por esse lado; a sua pregação até que faz sentido, mas agora vou apertá-lo, para ver se o senhor é bom mesmo; e as bolas vermelhas que ornamentam a minha árvore, o que consegue ver nelas?

Padre Daniel sorriu já pressentindo o gostinho da vitória... -Minha Nossa Senhora, mais uma vez o senhor se antecipou e me deu de bandeja a conclusão do meu sermão, ao lhe dar um sentido Bíblico teológico dos mais profundos.

-Olha Padre Daniel, o senhor está querendo é procurar cabelo na casca do ovo; o senhor vai me desculpar, mas bolas vermelhas de natal nada tem a ver com Deus e a Bíblia; com Jesus Cristo, etc.

-Então me diga; de que cor são as bolas? -Indagou Padre Daniel...

-Ora essa, o senhor está vendo que são vermelhas... Respondeu-lhe o homem.

-Sim, vermelho! Que simboliza a força do Espírito Santo; o fogo que queima, purifica e transforma, não só o coração; mas também a mente daqueles que crêem. E é esta força do Espírito Santo que transmite a vitalidade da salvação para a vida de cada um de nós e que está simbolizada nessa árvore...

-Mas Padre, a roupa do Papai Noel também é vermelha e ele é considerado o maior símbolo do consumismo...

E o padre Daniel, sem perder a calma disse: - Pois é minha gente, Papai Noel era um bispo chamado Nicolau, que tocado pela força do Espírito Santo, atendia as crianças pobres levando-lhes um presente na noite de Natal, para lembrar o dia em que nasceu Jesus, o Salvador, aquele que no seu Espírito nos molda á vontade de Deus, transformando-nos em seres amorosos, que têm alegria em dar e doar-se aos outros... Esse é o verdadeiro Papai Noel; um velho bondoso, que reflete o Cristo que se doa como presente maior, como a oferenda mais perfeita ao Pai e aos homens... O Papai Noel esvazia o saco em todos os natais. Mas Jesus esvaziou-se a si mesmo ao encarnar-se no seio de Maria, em um rebaixamento que se tornaria ainda maior na cruz do calvário... E com esse tema Padre Daniel pregou por umas três horas...

O homem rico voltou à comunidade. Arrastou consigo os amigos ateus que estavam com ele naquela noite, e assumiu a frente das obras da Igreja Matriz, fornecendo os recursos próprios.

Enfim, em um ambiente hostil e paganizado, Padre Daniel soube usar bem os símbolos pagãos para falar de Deus.

Essa é a nossa realidade hoje! Não nos fechemos em nossas igrejas, mas apontemos o Cristo Salvação, presente inclusive nos símbolos pagãos. Cabe a nós cristãos, mostrar às pessoas, o Cristo que elas não conseguem ver...