*Uma decepção das Arábias.

Por esse tempo, eu ainda trabalhava no Exército Brasileiro, na Sala Técnica do 2º Batalhão de Engenharia de Construção. Cap. Ferreira era, até então, o chefe desse departamento e depositava em mim uma grande confiança, por conta de plenos sucessos em trabalhos que fizemos juntos na BR-316 no Maranhão.

Chegou o tempo em que ele fora promovido ao posto de Major e por força do regulamento militar transferido para São Gabriel da cachoeira-AM. Tudo indica que na nova missão, ele tivera alguns problemas na área de topografia e por isso eu fiquei muito conhecido por lá, pelas referências elogiosas que fizera a mim, possivelmente muito além dos meus merecimentos. Era como se eu fosse o novo Euclides ou Descartes da topografia. De tanto falar em meu nome, um oficial em férias, indo para Fortaleza, resolvera descer do avião em Teresina apenas para me conhecer. Isso tudo sem que eu soubesse, sem prévio aviso.

Uma tarde, ao iniciar o segundo expediente, eu fui informado desse acontecimento, para mim inusitado. O problema era que eu estava de saída, para resolver uma demanda urgentíssima e não daria para receber nem o Governador, se fosse o caso. Demorei perto de uma hora, procurando ser diligente, resolver as encrencas e retornar para receber a quem me procurava.

Ele era um Tenente, muito bem apessoado. Quando me apresentaram aquele que me dera tão expressada honra, fiquei pelo menos uns cinco segundos com a mão estirada para cumprimentá-lo, sem que ele esboçasse reação mínima. O homem estava marmóreo, desfigurado. Senti que maneava a cabeça de forma quase imperceptível, com a mais evidente decepção, como se questionasse de si para si: foi para ver isso que perdi meu tempo?

Se a primeira impressão é a que fica, segundo a crença popular, a minha apresentação teria sido desastrosa. Não era, evidentemente, a primeira vez que me acontecia tal desgraça. Também eu já andava preparado para acontecimentos assim e disparei: Tenente... , compreendo seu desapontamento e culpo a boa fé do Major Ferreira por ter exagerado na dose. Certamente o senhor esperava encontrar em mim uma figura helênica, com o tórax de Tarzan, pernas do goleiro Émerson Leão, o rosto de Errol Flynn, desempenho de John Travolta e a doçura de um diplomata e voz do Pavarotti. Encontra, em contra partida, um cara oblongo, fora de esquadro, magrelo como espeto de assar minhoca, esconso, sem atrativos. Mas para minha profissão não se exigem os primeiros critérios e menos ainda os segundos, o que posso lhe garantir é que eu fui muito bem adestrado e não mordo, ainda! Prometo-lhe, igualmente, que no final de nosso encontro terei dissipado metade dessa desconfiança.

As pessoas que vieram com ele e ele próprio desataram na gargalhada e isso foi minha salvação. Desse ponto em diante a conversa fluiu...

Não é nada confortável viver de aparências e a aparência física é por si só, traiçoeira. Uma personalidade já dissera que mulher muito bonita impressiona nos primeiros quinze minutos, depois disso terá que mostrar outros atributos. Para o homem é ainda muito pior. A beleza física impressiona tanto quando peixe na feira.

Não sei se a comparação é exata, mas, pelo meu entendimento, Euclides da Cunha escreveu um soneto maravilhoso com o título de "Explicando uma fotografia", que bem se acomoda ao caso de expressão física e competência.

Para safar-me desses inconvenientes, vou escapando como Armengador de Versos.

São coisas que só acontecem comigo.

Uma decepção da Arábias

Houve um tempo em que eu trabalhava no Exército Brasileiro, na Sala Técnica do 2º Batalhão de Engenharia de Construção, cujo chefe era o Cap. Ferreira. Este depositava em mim uma grande confiança, por conta dos excelentes resultados que alcançamos, em vários trabalhos que fizemos juntos na BR-316, no Maranhão.

Um dia, ele foi promovido ao posto de Major e, por força do regulamento militar, transferido para São Gabriel da Cachoeira-AM. É provável que, nessa nova missão, ele deve ter tido alguns problemas na área de topografia, pois só isso explica o fato de eu ter ficado tão conhecido por lá, graças às referências elogiosas que ele fizera a mim, possivelmente muito além dos meus merecimentos.

Era como se eu fosse o novo Euclides ou Descartes da topografia. De tanto falar em meu nome, um oficial que estava indo passar férias em Fortaleza, resolveu descer do avião, em Teresina, apenas para me conhecer. Isso tudo sem que eu soubesse, sem aviso prévio nenhum.

Uma tarde, ao iniciar o segundo expediente, fui informado desse acontecimento, completamente inusitado para mim. O problema era que eu estava de saída, para resolver uma demanda urgentíssima e não dava para receber nem sequer o Governador, se fosse o caso. Demorei cerca de uma hora, procurando ser diligente, resolver as encrencas e retornar para receber aquele que me procurava.

Ele era um Tenente, muito bem apessoado. Quando me apresentaram àquele que me dera sentir tão expressada honra, fiquei, pelo menos, uns cinco segundos com a mão estirada para cumprimentá-lo, sem que ele esboçasse a menor reação. O homem estava marmóreo, desfigurado. Senti que maneava a cabeça de forma quase imperceptível, com a mais evidente decepção, como se questionasse de si para si: foi para ver isso que perdi meu tempo?

Se a primeira impressão é a que fica, segundo a crença popular, a minha apresentação, então, teria sido desastrosa e, evidentemente, aquela não era a primeira vez que me acontecia tal desgraça. Também eu já andava preparado para acontecimentos assim. Por isso, disparei:

– Tenente...,compreendo seu desapontamento e culpo a boa fé do Major Ferreira, por ter exagerado na dose. Certamente, o senhor esperava encontrar em mim uma figura helênica, com o tórax de Tarzan, as pernas do goleiro Émerson Leão, o rosto de Errol Flynn, o desempenho de John Travolta, a doçura de um diplomata e a voz do Pavarotti. Em contrapartida, dá de cara com um sujeito oblongo, fora de esquadro, magrelo como espeto de assar minhoca, esconso e sem atrativos. Mas, para a minha profissão, não se exigem os primeiros critérios e, menos ainda, os segundos. O que posso lhe garantir é que eu fui muito bem adestrado e não mordo – ainda! Prometo-lhe, igualmente, que ao final de nosso encontro, terei dissipado metade da sua desconfiança.

Tanto ele como as pessoas que o acompanhavam caíram na gargalhada e isso foi minha salvação. Desse ponto em diante, a conversa fluiu...

Não é nada confortável viver de aparências e a aparência física é, por si só, traiçoeira. Uma personalidade já dissera que mulher muito bonita impressiona somente nos primeiros quinze minutos. Depois disso, terá que mostrar outros atributos. Para o homem, é ainda pior. A beleza física impressiona tanto quanto peixe na feira.

Não sei se a comparação é exata, mas, pelo meu entendimento, Euclides da Cunha escreveu um soneto maravilhoso com o título “Explicando uma fotografia”, que bem se assemelha ao caso de expressão física x competência.

Para safar-me desses inconvenientes, vou escapando como Armengador de Versos.

São coisas que só acontecem comigo...

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Agradeço a participação inteligente desse comentário da Poetisa Raquel Ordone, que sempre me causa alegria.

São coisas que só acontecem comigo.

Piora se não tenho conteúdo.

Arranco se estou barbudo.

Posso ser bastante amigo.

E se só olho pro meu umbigo?

O melhor mesmo é não fingir,

Seja o que for e se abrir...

Aparência é claro que engana.

Mas se de repente vai em cana?

Não deixe o artificial te cobrir...

Abraços poeta dos causos interessantes!

! Palmas! Xêro!