Mas que dia!
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Oh, dia.../ parte final 

  Já tinha vencido mais de 2/3 do trajeto, entre descida e nova subida, mas aquele “hei” me intrigou demais, impedindo que entrasse em meu AP.
  Fiquei preocupado e me perguntando:
-E se fosse de fato um pedido de socorro, de alguém em desespero e que realmente estivesse passando mal? Visto que aquele murmúrio esvaía-se lentamente a medida que eu vencia os degraus!
  Pensei, estou decidido! Vou descer novamente e ver do que se trata aquele ‘gruído’ fazendo minha parte, afinal para que estamos nesse mundo, se não para nos ajudarmos, uns aos outros, não é mesmo?  
  Dei de cara com o dono daquele arremedo de voz e vi que ele não me era estranho, só não sabia de onde o conhecia (na hora só pensei...); quase que reconhecendo sua fisionomia!
  Me desliguei dessa minha impressão por instantes, para ver no que iria dar aquela conversarada que ele desandou falar e assim perguntei:
-O que desejas meu bom homem?
   E ele, forçando uma situação de penúria me diz com a voz embargada:
-Patrão, sou viúvo, tenho 5 fio, ainda di menor e o mais véio (dez anos) ficou cuidando dos outros ainda mais menor (2, 4, 5 e 7 anos), pra eu me virá e tentá comprá o pão...
  Mas como o senhô sabe patrãozinho, a vida não tá fáci pra ninguém, não é memu? E imprego, intão...
  Fui as vária firma, mais nada! Achu que não tenho sorte e é por içu que cuando vi o senhô saí e adepois entrá de novu, antis que a porta se fechace entrei e fiquei chamando o senhô, mais achu que o senhô não me reparô. Tava com muita preça, não é memu patrão?

Bingo!
  Sabia que meu pressentimento não havia me traído e reconheci ali a mesma historinha esfarrapada que ouvi, alguns anos atrás!
  Ele não se lembra de mim, afinal faz tempo e por falar em tempo, parece que esse marvado remoçou e esse tempo só fez mal foi para mim, que estou todo estropiado, já para o sem vergonha...? 

´[Este foi o mesmo sujeito que tempos atrás me contou o mesmo 'lero-lero' de ser assim, assado...]
 
  Ah, e tinha outro detalhe que não esquecerei jamais, o cara-de-pau usava também uma pochetezinha na cintura e tanto naquele dia quanto hoje, parecendo ter mais dinheiro dentro do que na minha carteira em dia de pagamento. A minha que só´carrego boletos pra pagar e rascunhos de papel de pão, com minhas “bobiças” escritas!
  Na ocasião caí feito um marreco naquele “conto do vigário”, me enchi de pena e abri a carteira por piedade deixando mais do que eu ganhava, numa semana de trabalho!
na época, trabalhava e morava noutro bairro e quando saí para almoçoar naquele dia, para minha surpresa estava o vagabundo, num boteco com uma mulher, de igual quilate ao lado e a mesa estava tão cheia de garrafas, mas tão cheia que não cabia mais um copo (detalhe, cerveja de marca e melhor do que eu tomo) e os dois riam que era uma maravilha, decerto desse cabeçudo que vos escrevem!

Bom voltando a vaca fria...
Então após decifrado o embuste, disse ao vagab... (desculpem ao homem):
-Olha meu querido (segurei a raiva nessa hora, precisava pra dar sequência no meu plano) vamos subir até o meu apartamento e ver o que posso fazer e arranjar hoje pra você, meu amigo!
  Fomos subindo e não sei se foi o prazer que iria sentir por aquilo que estava prestes a fazer que me deixou mais resistente e disposto, mas a verdade é que acho que poderia subir correndo novamente!   Já o malandro parecia que ia dar um treco.
  O homem ficou amarelo, depois esverdeou e em seguida envermelhou de vez!
  E quando estava na porta do meu “ap”, ele esperando de mãos abertas, crente que iria me trapassear de novo e depois de subir mais de 200 degraus, dos 15 andares, estufei o peito e disse pro sem vergonha:
-Em primeiro lugar meu amigo, lembro muito bem de você e seu filho mais velho, aquele barbado já deve estar maior que nós dois e com uns 30 anos;
-E a menos que ressuscitou, vi sua mulher aí fora;
-E patrão...? Fosse eu patrão de alguém ou de alguma coisa, colocaria, melhor, nem tiraria meu pijama e voltava pra cama, não iria ser preciso voltar pra buscar o nojento do meu aparelho celular (teria na certa, outro bem melhor, na verdade) só indo pra minha firma, depois do meio dia e olhe lá...!
  Portanto vá picando a mula antes que eu pegue o que tens aí dentro dessa sua bolsa, que deve ter mais dinheiro do que em minha carteira pelo mès todinho.

  Vá descendo ligeirinho seu malandro e estamos conversado, seu trambiqueiro e vadio!!
SERRA GERAL
Enviado por SERRA GERAL em 28/06/2020
Reeditado em 28/06/2020
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