" NÃO ACEITO MADRASTA! "

Que situação! Adalberto precisava dizer ao filho que estava conhecendo uma pessoa, abrir o coração... mas por onde começar? O filho sentia muitas saudades da mãe, queria ver os pais juntos novamente. Marlon era um adolescente com sua autoestima no fundo do poço. Adalberto era um bom pai, mas não conseguia manter um diálogo com o filho. Era muito fechado, havia um bloqueio. Embora dissesse a todos que o filho era um grande amigo e que ele sempre poderia contar com sua ajuda, na realidade não deixava isso transparecer. Marlon tinha ia completar dezessete anos quando sua mãe saiu de casa. Foi num domingo ensolarado... Dia lindo que ficou marcado pelas lágrimas quando Adalberto chegou do trabalho na feira juntamente com o filho.

Bem que Marlon estranhou o fato de a mãe preparar um sanduíche e pedir-lhe que entregasse ao pai. Marlon costumava ajudar o pai na feira aos domingos, saía de casa por volta de nove da manhã para a banca do pai. Aquele domingo foi muito estranho... Viu do portão, quando já estava saindo, a mãe dando adeus. Um adeus vindo de um rosto triste.

Julieta, dias antes, só fazia reclamar... Reclamava que o marido só dava atenção para o trabalho! Reclamava do filho que não demonstrava interesse pra trabalhar, não se desenvolvia, só ficava em casa, do colégio pra casa e sem amadurecer o pensamento de ganhar seu próprio dinheiro, viver sua juventude, ser responsável e ter mais atitude. Marlon era um garoto pacato, que o pai só queria que estudasse. Mas Julieta não queria ver o filho naquele ritmo devagar. Marlon era estudioso, mas se fechava para a vida. Adalberto, quando viu que a mulher tinha ido embora, se jogou na cama e começou a chorar. Marlon se isolou pois sentiu seu coração partido ao ver o pai chorar. Ambos ainda saíram pelas ruas circunvizinhas em busca do paradeiro de Julieta, mas foi em vão. Na mesma semana, uma amiga da família disse ter visto Julieta descendo do ônibus no Centro da cidade com uma mala bem pesada. " Perguntei se ela queria ajuda... Ela disse que não! Saiu querendo esconder o rosto, estava chorando... Deu pra perceber."

Adalberto pôs as mãos no rosto, encheu sua alma de culpa... Mas ao mesmo tempo não queria admitir! Colocava o trabalho em primeiro lugar, e achava assim que estava fazendo o bem para a sua família! Que triste!... Tristeza maior foi o que este homem trabalhador passou a fazer: Para tentar se livrar da culpa de a mulher ter ido embora, começou a atribuir ao filho a razão disso tudo! Porque Marlon só vivia enfurnado dentro de casa!... Porque Marlon era parado, sem ideais, sem garra... Sem isso, sem aquilo!... O garoto se sentiu arrasado ! Não é para menos...

Mas Marlon era um jovem pacífico, que não guardava mágoas... Ficou do lado do pai sempre dando forças para ele superar este momento difícil.

Outros jovens se revoltaria e saíam de casa, mas Marlon era diferente!

Adalberto tinha esperança de a esposa voltar. Costumava sair com o filho, caminhavam pelos lugares que Julieta tinha o hábito de frequentar como por exemplo os seus parentes, seus primos distantes que moravam na região central da cidade. No início Adalberto vivia muito angustiado, e seu filho Marlon o consolava, sempre dando forças, o ajudando no trabalho, durante a semana se dedicando aos estudos e, enfim vivendo uma vida de cabeça erguida. Adalberto foi aos poucos abandonando a ideia de sempre procurar Julieta, parecia ter se conformado que a mulher não voltaria tão cedo, ou talvez nem voltaria mais. Combinou com o filho de cada um fazer a sua parte, ele se dedicando no trabalho de comerciante e o filho só nos estudos, até se formar na faculdade​. Marlon no início se sentia atordoado, culpado... As palavras do pai o deixavam triste, mas o jovem se calava. Foi se tratar com psicológa, gostava de uma vez na semana ir lá na doutora Elizabete desabafar! " Marlon, não se sinta culpado por tua mãe ter ido embora! Esse problema tem a ver com eles dois. Você faz bem em ficar do lado do seu pai... Mas tire este sentimento ruim de tristeza, não ouça as palavras insanas! Não ligue quando seu pai disser que você é o culpado... O ser humano quando não sabe resolver uma situação, ele quer achar um culpado. É sempre assim! Sua mãe quando saiu de casa teve em mente que agindo assim resolveria o problema, mas não é assim!... Ouça bem, Marlon! Sua mãe vai voltar, pode confiar!" Os anos foram passando... Adalberto deixou de trabalhar na feira, e fez da garagem de sua casa uma loja, um mercadinho. Mesmo morando numa rua pacata, Adalberto viu seu negócio prosperar. Nessa altura, Marlon já estava na faculdade de Administração. O jovem ainda não tinha certeza se seguiria a carreira, estava na faculdade só pra agradar o pai, que dizia que Julieta quando voltasse iria ficar muito feliz ao ver o filho formado.

Daniel, primo segundo de Marlon, disse certa vez ter visto Julieta em um shopping. " Foi um encontro relâmpago, minha tia estava muito misteriosa... Não me disse onde estava morando, foi se esquivando da conversa! E como eu estava atrasado pra chegar no curso pré-vestibular, não deu pra conversar com ela e depois segui-la." Marlon gostou muito de saber da notícia da mãe estar por perto. A notícia alimentou a esperança do rapaz que sempre sonhava com a mãe voltando.

Adalberto estava focado no trabalho, feliz com seu comércio! Quer dizer aparentemente feliz!... Pois a solidão o atormentava. Adalberto era tímido, não era de sair, só vivia do trabalho para casa. Mas mal sabia ele que Vânia, sua vizinha recém-separada, sempre o observava. Até mesmo antes de Julieta o deixar! Vânia era uma mulher audaciosa, trabalhadora, comerciante nata... Parecia um homem de saia! Era uma mulher esperta, se aproximou de Adalberto aproveitando-se de sua fraqueza, pois este numa conversa abriu o coração, falou de carência, do tanto que amou Julieta. Então a mulher viu que ele era trabalhador e próspero, e já ficou de olho em sua loja. Vânia disse que Julieta não combinava com Adalberto, e que sempre nutria um desejo ardente por Adalberto.

E, enfim, sua lábia, seu sorriso, sua disposição em ajudar, seu jeito de cativar... Tudo foi fazendo com que Adalberto caísse em suas garras, Adalberto ficou enfeitiçado por Vânia, a mulher de bigode.

Numa certa noite de Agosto, mês do aniversário de Julieta ( Marlon sempre lembrava a data!) Adalberto​ sentiu a necessidade de falar com o filho sobre o namoro com Vânia. Marlon tinha acabado de chegar da faculdade, era uma noite fria, o pai preparou um mingau de aveia para ambos tomarem. No momento da refeição, Adalberto iniciou a conversa: " Marlon, o que vou falar agora com você, sou eu abrindo o meu coração... Falando de vida! Nesta vida todos nós temos uma necessidade, creio que sua mãe já falou com você sobre o fato da gente ir em busca do que a gente quer, isso é a felicidade... Sua mãe foi em busca da felicidade dela! Eu não sei se ela volta mais... Por isso, filho... Eu estou namorando." Marlon, ao tomar a última colherada do mingau, começou a chorar. Não queria acreditar que não veria mais seus pais unidos, casados! Não aceitava uma outra mulher, uma madrasta!

" Quem é pai? Quem é ela? Diga que não é verdade!" , " Eu quero o senhor com a minha mãe!... Não aceito madrasta! "

Adalberto viu que seria difícil convencer o filho a aceitar Vânia.

Marlon e Adalberto foram passar o domingo na casa de tia Alice.

Adalberto contou para sua irmã sobre Vânia, falou que estava muito apaixonado, falou de todos os predicados da moça, disse também que os filhos dela o aceitaram, e que torcem bastante pela felicidade da mãe. " Eu quero muito fazer Vânia feliz, ela é comerciante assim como eu, é mulher de luta! Com ela não tem tempo ruim! "

Marlon ouviu o pai elogiar Vânia, e disse com uma raiva incomum: " Se o senhor ficar com aquela mulher, eu saio de casa! Não quero isso não!"

Marlon estava muito triste, Adalberto deu um leve sorriso meio sem graça e respondeu:

" Então você pode sair, meu filho! Fique a vontade! Quer ir embora vai! " Adalberto foi embora, disse para sua irmã Alice conversar com Marlon.

"Vai com Deus, meu irmão! Marlon vai ficar aqui em casa... Amanhã quando estiver tudo em paz ele volta pra casa! "

Marlon não aceitava de jeito nenhum o relacionamento do pai! Queria continuar tendo a companhia do pai, só os dois... Até Julieta, sua mãe, voltar!

Ciro, filho primogênito de Alice, conversou com Marlon:

" Primo, se coloca no lugar do tio Adalberto... Você acha que ele sabe quando a minha tia vai voltar? Lógico que não! A minha tia Julieta nunca vai deixar de ser minha tia... Ela é sua mãe, sempre será! Acontece que o tio tem as necessidades dele, é homem... Sabe como é né primo! São 4 anos que o tio não... É osso primo! Kkkkk"

Marlon começou a abrir um sorriso, Ciro era o melhor primo que Marlon tinha, sempre espirituoso, um grande amigo!

Marlon enxugou as lágrimas, decidiu não atrapalhar a vida do pai!

Se esforçou pra manter uma boa convivência com Vânia.

Esta se aproximou também de Marlon, prometeu para ele que iria fazer o possível pra que sua mãe aparecesse, disse-lhe também que achava Julieta uma mulher linda, elegante.

" Sabe, Marlon, sempre quando eu via você e seus pais eu achava lindo... Era como eu queria que a minha família fosse! Meu ex-marido era um bruto, a gente quebrava o pau até altas horas. Já vocês eu percebia conversa, diálogo. Como eu queria que meu ex-marido fosse igual seu pai! Seu pai é trabalhador, diferente do meu ex que sempre ficou às minhas custas! "

Marlon e Vânia estavam num restaurante.

O dia foi maravilhoso! Vânia gostou de saber que o rapaz estava mais tranquilo e a tinha aceitado.

Mas Marlon não parou de pensar na mãe, só tinha Vânia como uma amiga. Não admitia de jeito nenhum que falassem que Vânia era sua madrasta!

Até que no final do ano, já pertinho do Natal, eis que quem aparece? Julieta. A mãe de Marlon aparece bem cedinho na casa de Alice. Descobriu através de seu irmão que Adalberto estava casado, morando junto com Vânia, por isso não voltou para casa e foi para a casa da cunhada. Julieta chegou chorando, Alice, que estava acordada e se preparando para ir à igreja, levou um susto ao rever Julieta! A mulher estava em prantos, queria rever o filho! " Chamem o Marlon!... Cadê meu filho? Eu só voltei por causa dele! "

Foi então que Julieta combinou com seu irmão de criação ir buscar Marlon com uma desculpa de que tinha aparecido um comprador de seus quadros, suas telas abstratas! O " comprador" estava na casa de sua tia, ficou encantado pelos quadros!

Júnior foi até a casa de Marlon que ficou bem alegre com a notícia, mas algo dentro dele dizia que aquilo não era verdade, era muito estranha aquela história! Marlon chegou a pensar em sua mãe, parece que o jovem tinha adivinhado!

E não é que ele adivinhou?!

Marlon quando chegou à casa da tia, deu de cara com a mãe. Que felicidade! Que abraço gostoso!

Julieta disse que voltou para passar junto com o filho as férias de verão​, as férias da faculdade dele.

Julieta voltou na verdade porque achava que era portadora de uma doença incurável, o mal a atormentava dia e noite com pensamentos de que logo ela iria morrer... Não queria morrer sem ver o filho! Por isso ela voltou! Mas não contou nada para o filho! Só queria vê-lo feliz! Queria se sentir feliz ao lado do filho... Somente ao lado do filho.

Adalberto ao saber através do filho que Julieta tinha voltado começou a fazer reviver a esperança de voltar a ter a mulher. Ele estava insatisfeito com Vânia, pois ela era uma mulher mandona, controladora, ambiciosa, percebeu enfim que tinha caído numa armadilha estando ao lado dela. Mas já era tarde! Julieta não queria mais voltar pra ele!

Adalberto pediu ao filho que convencesse a mãe a voltar pra ele.

Marlon tinha colocado a foto da mãe bem bonita em sua mesinha de cabeceira. Toda vez que Vânia ia no quarto de Marlon o chamar para almoçar, via a foto de Julieta, e percebia que os laços daquela família era bem forte.

Mas não queria abrir mão de Adalberto! Tinha crescido muito financeiramente depois que se juntou a ele.

Marlon foi para Búzios passar as férias com a mãe. Adalberto, dias depois, resolveu jogar tudo pro alto e ir ao encontro da mulher e do filho.

Alice sempre orava para que o irmão voltasse para Julieta. As orações deram certo, Deus fez aquela família se reestruturar!

O final da história foi que Julieta descobriu através de um exame que não tinha doença nenhuma, era rebate falso! Graças a Deus!

Vânia chegou a ameaçar de morte os familiares de Adalberto! Se não contassem onde ele estava morreriam!

Mas quem acabou morrendo foi ela nas mãos de seu ex-marido que voltou furioso por ter descoberto mais um caso que a mulher teve!

Inaldo deixou Vânia por estar cansado de levar chifre e ser mal falado na rua.

Matou a mulher porque não queria que seus filhos vissem a mãe se desfrutando com um e com outro!

Inaldo queria matar Vânia e Adalberto, queria matar os dois! Mas Adalberto alcançou, graças a Deus, o livramento!

( Autor: Poeta Alexsandre Soares de Lima)

Poeta Alexsandre Soares
Enviado por Poeta Alexsandre Soares em 07/08/2020
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