Brincando de Morte em Pendura Saia

Fazia um bom tempo que não escrevia nada sobre os moradores de Pendura Saia, hoje me deu saudades deles, penso que eles de mim. Então resolvi contar mais um causo sobre eles, espero que gostem.

Pendura Saia é um povoado bem pequeno no interior de Goiás, já falei em outros causos que o tamanho de Pendura é quatro ruas na vertical e quatro na horizontal, como também todas as estórias são ambientas nos meados dos anos cinquenta para sessenta. Uma cidade bem pacata onde todos os moradores conhecessem-se, todos sabem da vida um do outro. Essa estória passou-se na casa do seu Bento, ninguém ficou sabendo, o acontecido ficou entre eles.

Em casa seu Bento e sua esposa recebem muitas visitas, tanto de parentes como de amigos, como a casa deles é tamanho normal com apenas três quartos, direto às duas filhas do casal tinha que dormir em colchão espalhado para que, as visitas dormissem nas camas. Dona Helena sempre reclamava com o marido, dizendo que as meninas viviam gripadas por dormir no chão que era de cimento. Como a casa do seu Bento parecia mais uma chácara ele havia construído três galpões para guardar mercadorias. Ele resolveu dividir cada um deles com paredes fazendo assim três quatro com portas para o quintal de sua casa, as portas dos galpões dava saída pela rua lateral. Porque a casa deles pegava quase o quarteirão inteiro como era de esquina pegava três ruas, quartos feitos, vamos à estória.

Certo começo de semana assim que as visitas vão embora Dona Helena abriu o quarto em que as visitas estavam para trocar a roupa de cama, fazer a limpeza do mesmo. Quando resolve chamar as filhas, elas estavam brincando ali por perto, atendem o chamado da mãe rápido, chegando onde ela estava viu que a cama do quarto estava com velas acessas na cabeceira e nos pés da cama. No que dona Helena diz para as filhas.

-morri!

Dizendo isto deita na cama de barriga para cima com as mãos postas, porque lá em Pendura nesta época não se comprava caixão eles eram feitos pelos próprios moradores, enquanto eles eram confeccionados, o defunto ficava deitado na cama com mãos postadas esperando. A filha mais velha sempre ia aos velórios, com a mãe, sabia como era, ao ver a mãe deitada cercada por velas abri a boca a chorar, sua irmã menor a vendo chorar abri o berreiro também.

A mais velha de dona Helena sai correndo do quarto vai até o armazém do pai chorando dizendo;

-p a i!

-que é minha filha!

-m ã e!

-o que tem a sua mãe!

-m o rr e u!

-O quê!?

-a m ã e m o rr e u!

-Onde minha filha? Onde esta sua mãe me leva lá!

Com essa notícia, seu Bento deixa seu armazém sozinho, como muito dinheiro em caixa porque havia acabado de receber de um fazendeiro, a sorte que nesta hora não havia ninguém além dele. Na medida que as pernas aguentam sai depressa com a filha, porque suas pernas viram uma gelatina. A filha o leva até o quarto onde a mãe está deitada cercada de velas.

Ao ver a cena, na hora seu Bento julga que a esposa morreu, mas logo pensa, se estamos só eu a Helena, as crianças em casa como estas velas vieram parar aqui. Então chega perto vê que a esposa esta respirando, chama;

-Helena!

Ela se levanta rápido sem graça, o marido que nunca brigou com a esposa nesta hora fica bravo, chama sua atenção como se tivesse falando com uma das filhas dizendo;

-Helena! Que isto que esta fazendo? Fingindo de morta?

-Bento, só queria brincar com as meninas.

-Que brincadeira sem graça é essa! Vira adulta Helena isto não é coisa que se faça com as meninas, não ouviu o desespero delas? Não viu que Luíza saiu correndo, que a Catarina ficou aqui chorando muito? Isto causa trama nelas?

-Desculpas Bento, só queria brincar com elas!

-Já pensou se eu sofresse do coração? Teria caído morto de susto, olha como estou tremendo até agora devido a sua falta de juízo!

Dona Helena sabia que o marido estava muito zangado, porque quando ele ficava bravo ou zangado falava baixo, este era um destes momentos, então pensando é melhor ficar calada. Seu Bento ainda disse para a esposa;

-Que isto que aconteceu aqui em casa hoje não sai daqui, não quero que ninguém, ninguém ouviu bem dona Helena, sabia disto porque é vergonhoso, feio, indecente para com as meninas, para comigo também. Converse com as meninas para que elas não contem para ninguém, você conhece a Luíza sabe como ela é. Esse é um problema que você arrumou agora tem que saber como lidar com ele, já disse que não quero que ninguém saiba o que aconteceu, nem mesmo os vizinhos, porque se um deles souber toda Pendura saberá, que vergonha será para você, estou pensando mais em você do que em mim e nas meninas.

Dona Helena conversou com as meninas explicando que aquela era uma brincadeira entre elas, ninguém precisaria saber por que se não todos em Pendura iria querer brincar também, ela não teria como brincar com elas porque não sobraria tempo, ela teria que brincar com as outras pessoas. As meninas acreditaram na mãe, nunca comentou com ninguém com medo da mãe não ter mais tempo de brincar com elas.

Lucimar Alves

Lucimar Alves
Enviado por Lucimar Alves em 10/05/2021
Reeditado em 12/05/2021
Código do texto: T7252344
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