TrAiDoR que cangaceiro mandou assar/interação

Virgulino, vírgula, o Lampião, não gostava de traidor. Ponto.

O referido enviado do Capeta punia qualquer cangaceiro do seu bando que fosse tido como traidor.

Dizem que Lampião gostava de incentivar a atividade de “rinha de galo”, ele mesmo tendo o seu galo de estimação que foi campeão durante muitos anos até o bicho ficar velhinho e não poder mais competir.

Aposentado com todas as honrarias, o galo (que era conhecido como: “Esporudo”) continuou sendo bem cuidado pelo Rei do Cangaço — ainda estamos falando do mesmo bandoleiro assassino lendário e enviado do Capeta: o Lampião.

Lampião nem queria mais assistir às “brigas (rinhas) de galo”, pois não achava mais graça e pensou que só adotaria outro daquele quando o Esporudo morresse. Na verdade, a nova maravilha era ouvir o bicho cantar bonito como se ainda fosse moço e acordando o bando cedinho da manhã.

Certa vez, alguém narrou a Lampião as lendas dos antigos piratas que singravam os mares sem fim.

O Rei do Cangaço se sentiu identificado com aqueles matadores, implacáveis como ele, que além de tudo não tinham medo do mar. O detalhe é que Lampião acreditava que os mares antigos eram apinhados de dragões.

Foi quando Lampião resolveu que ficaria um pouco parecido com um pirata se adotasse o costume de carregar um louro (papagaio) sobre um dos ombros.

E foi assim durante algum tempo.

Lampião quase esquecia o amor que sentia pelo galo Esporudo... até que o louro tomou uma atitude que foi tida como alta traição.

É que o tal papagaio, sentindo-se já dono de todas as atenções, resolveu ganhar o lugar do galo Esporudo e fez aquilo que de melhor sabia fazer. Uma imitação.

Numa bela manhã, aliás com o dia ainda amanhecendo, o papagaio antecipou-se ao cantor original e soltou uma baita imitação do canto do galo:

— COCORICÓÓÓÓÓ...!!!

E, para que todos tivessem certeza de quem era o novo cantor do pedaço, o louro repetiu ainda mais forte:

— CÓ-CÓRI-CÓÓÓÓÓ... CÓ-CORICÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓ...!!!

Não deu outra.

Lampião achou que aquilo era uma alta traição, pior que a dos seres humanos.

Imagine só...! O bicho tinha nascido com o dom de repetir as falas dos seres humanos... e nunca para trair sua raça, de “pra-quê” ele tinha nascido, e agora querer ser um galo! — “Mas espia só...!”

O traidor foi servido no almoço daquele mesmo dia.

E a lenda do galo Esporudo nunca foi apagada, sua fama crescendo ainda mais porque aquela tinha sido mais uma vitória do galo campeão... que venceu até um bicho de outra espécie, mas sem ter que brigar.

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INTERAÇÃO do Poeta JOEL DE SÁ:

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... numa madrugada Lamp foi despertado pelo troar dos bacamartes dos "macacos" e nunca mais ouviu o galo cantar. Ele, como Corisco etc, foi ter o mesmo destino que os traidores do povo simples o teriam.