O Preço da Beleza

Nas montanhas do Olimpo, onde os deuses observam o destino dos mortais, Afrodite, a deusa da beleza, contemplava um grupo de jovens que dançavam à beira de um lago cristalino. Entre eles estava Elara, uma mortal cuja beleza era tão sublime que se dizia rivalizar com a própria deusa. Seus cabelos dourados refletiam a luz do sol, seus olhos eram como o céu ao amanhecer, e sua presença fazia até os ventos suspirarem. Mas Elara não via sua beleza como bênção. Pelo contrário, para ela, era uma maldição.

Desde a infância, Elara fora admirada e invejada. Mulheres a olhavam com desdém, acusando-a de ser orgulhosa sem jamais terem trocado uma palavra com ela. Homens disputavam sua atenção, não por amá-la, mas pelo desejo de possuir algo tão perfeito. Aqueles que ela rejeitava espalhavam mentiras, dizendo que ela era fria e arrogante. Sua beleza atraía não apenas olhares, mas também ódio e obsessão.

Certa noite, enquanto Elara chorava sozinha às margens do lago, Apolo, o deus do sol, apareceu. Ele, que sempre admirara a mortal de longe, perguntou por que ela estava triste. “Por que eu devo pagar por algo que nunca escolhi?”, ela lamentou. “Minha beleza me isola, me aprisiona. Quem me ama não ama a mim, mas a aparência que carrego. Quem me odeia faz isso por julgamentos que nunca tive chance de refutar.”

Apolo, movido por compaixão, contou-lhe a história de Narciso, um jovem tão belo que todos que o viam se apaixonavam. Mas sua vaidade o levou à ruína, pois, incapaz de amar outro além de si mesmo, ele se perdeu ao se apaixonar por seu próprio reflexo. “Beleza é uma faca de dois gumes, Elara. Pode abrir portas, mas também destruir almas.”

Elara ouviu com atenção, mas seu sofrimento continuava. Sem que ela soubesse, entretanto, seu destino estava entrelaçado ao de outros que também pagavam o preço da beleza.

No mesmo reino, havia Lícia, uma mulher ambiciosa que invejava profundamente aqueles que eram naturalmente belos. Sem possuir a graça de Elara, Lícia dedicou sua vida a conquistar os homens mais atraentes, não por amor, mas para preencher o vazio que carregava. Quando conheceu Cael, um jovem de beleza quase divina, fez de tudo para atraí-lo. Fingiu ser alguém que não era, jurou amor eterno, até que, ao perceber que ele não se comprometeria facilmente, decidiu prender Cael de outra forma: o golpe de um filho.

Ao descobrir que Lícia estava grávida, Cael ficou dividido. Ele sabia que não a amava, mas também não podia ignorar a criança que agora estava em jogo. O que Lícia não antecipou foi que a obsessão por conquistar Cael destruiria não apenas a vida dele, mas a dela mesma. Anos depois, a criança cresceria, cheia de ressentimento, sentindo-se uma arma usada para manipulação e nunca por amor.

Afrodite, observando tudo, decidiu intervir. Apareceu para Elara, Lícia e Cael, unindo-os em um único momento. A deusa não ofereceu conforto, mas uma lição. “Vocês, mortais, são rápidos em usar a beleza como moeda ou maldição. Elara, sua dor vem da projeção alheia, mas sua alma está intacta. Não deixe que o julgamento dos outros roube sua essência. Lícia, sua busca por beleza externa destruiu sua humanidade. Não é o corpo que traz amor, mas o coração. Cael, sua indecisão o transformou em prisioneiro. O verdadeiro amor não pode ser imposto, nem por beleza, nem por filhos.”

Ao final, Afrodite deu-lhes uma escolha: continuar carregando o peso da beleza ou abrir mão dela para sempre. Elara, compreendendo que sua beleza fazia parte de quem ela era, decidiu mantê-la, mas prometeu não deixar que isso definisse sua alma. Lícia, consumida pelo arrependimento, abriu mão de sua beleza, decidindo começar de novo, buscando um amor verdadeiro. Cael, por sua vez, escolheu enfrentar seu fardo e cuidar de seu filho, jurando criar um laço de verdade.

A lição se espalhou entre os mortais como uma história: a beleza pode ser um presente, mas também um fardo. Aqueles que a possuem devem usá-la com sabedoria, enquanto aqueles que a desejam devem lembrar que ela, por si só, nunca será suficiente. No fim, a verdadeira maldição não está na beleza, mas no que escolhemos fazer com ela.

Junior Lima (Messias)
Enviado por Junior Lima (Messias) em 08/12/2024
Reeditado em 08/12/2024
Código do texto: T8214361
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