Desejo Egoísta
Renato sempre chamou atenção por onde passava. Alto, de sorriso fácil e olhos que pareciam conter o brilho de um céu estrelado, era visto como uma verdadeira obra-prima da natureza. Mas, para ele, essa aparência perfeita era mais um fardo do que um presente. Estava cansado dos olhares superficiais, das pessoas que se aproximavam por vaidade, desejo ou interesse, sem nunca tentar conhecê-lo de verdade.
Foi em uma festa que ele conheceu Érica. Ela o olhou de uma forma diferente, ou assim ele achou. Érica era esperta, sabia como esconder suas verdadeiras intenções. Desde o momento em que viu Renato, decidiu que ele seria dela, custasse o que custasse. Não importava que ele mal a conhecesse, não importava que os sentimentos dele fossem nebulosos; para ela, ter alguém tão belo ao seu lado era uma conquista pessoal, uma validação de que ela era importante.
Os dois começaram um breve relacionamento, mas Renato logo percebeu que algo estava errado. As conversas eram vazias, o afeto parecia forçado, e tudo girava em torno do desejo de Érica de exibi-lo como um troféu. Ele tentou terminar, mas Érica, determinada a não perdê-lo, tomou uma decisão egoísta: decidiu engravidar.
Sem consultar Renato, Érica manipulou a situação, acreditando que um filho seria o elo definitivo que os uniria para sempre. Na sua mente, ele não teria escolha senão casar com ela. E, afinal, como ele poderia recusar algo tão "precioso"?
Quando Érica revelou a gravidez, Renato ficou chocado. Ele sabia que o relacionamento dos dois era frágil e sentiu que algo estava errado, mas nunca imaginou que ela pudesse usar uma vida para tentar prendê-lo. Ele confrontou Érica, pedindo explicações, mas tudo o que ela fez foi reforçar que eles deveriam estar juntos "pelo bem da criança".
Renato não conseguia lidar com a manipulação. Sentiu-se traído, reduzido a um objeto de desejo e controle. Com o coração pesado, ele tomou a difícil decisão de se afastar. Não porque quisesse fugir de sua responsabilidade, mas porque sabia que permanecer ao lado de Érica seria viver uma mentira que prejudicaria a todos, especialmente à criança que não tinha culpa de nada.
Sem Renato, Érica teve que encarar as consequências de suas escolhas. Criar o filho sozinha foi um desafio que ela não estava preparada para enfrentar. Com o tempo, começou a perceber o peso de sua atitude egoísta. O filho cresceu, sentindo a ausência de um pai e as frustrações de uma mãe que, por muito tempo, carregou o arrependimento como uma sombra.
Anos depois, Érica, já mais velha, tentou explicar ao filho a verdade. Contou-lhe como sua obsessão por Renato havia cegado sua razão, levando-a a usar uma vida como moeda de troca para seus desejos pessoais. O filho, agora adulto, ouviu com dor, mas também com uma sabedoria que a mãe não esperava.
“Você tentou me usar para preencher um vazio que nunca foi meu para preencher”, ele disse. “Mas eu não serei definido pelas suas escolhas. Eu escolho ser melhor, aprender com o erro que você cometeu.”
Érica chorou, arrependida, mas sabia que as palavras do filho eram verdadeiras. Ela passou a dedicar sua vida a alertar outras pessoas sobre os perigos de agir por impulso e egoísmo, especialmente quando uma vida está em jogo.
E quanto a Renato? Ele seguiu sua vida, mas nunca esqueceu o que aconteceu. Ele reconheceu que sua beleza, muitas vezes, era um fardo que atraía pessoas erradas, mas também aprendeu a valorizar aqueles que o viam além das aparências.
A história de Érica e Renato se tornou um exemplo para muitos: beleza não deve ser vista como algo a ser possuído, e amor não pode ser construído à força. Quando colocamos nossos desejos acima de tudo, sem medir as consequências, acabamos criando dor — para os outros e para nós mesmos. Uma vida, seja a nossa ou de alguém, nunca deve ser usada como um meio para atingir nossos próprios fins.