CONQUISTA

Nina acordou muito cedo. Não era, ainda, hora de ir trabalhar.

Deitada, começou a pensar na vida que vinha levando fazia tempo.

Trintona, muito bonita e sabia que era, sedutora, bom papo, voz gostosa, diferente e bem empregada. No conjunto era, como se diz no popular, "um pedaço de bom caminho". Sabia se preservar e cuidar bem da saúde.

Já tivera inúmeros namorados: fortes, fracos, feios, bonitos, ricos, pobres. Enfim , não sobrou nada. Uma fauna masculina completa.

Mas, como pensava, nunca fora conquistada. Da sua "coleção" masculina, guardava apenas umas duas lembranças. Se muito!

Perguntou-se: "Nunca fui conquistada ou nunca me deixei conquistar?"

No final das contas já estava em dúvida.

A verdade é que ainda não lhe acontecera aquele "algo mais" que suas amigas tanto falavam.

Morava na Lapa, bairro do centro da cidade do Rio de Janeiro.

Vinha notando que determinado cidadão procedente do bairro de Santa Teresa, sempre a cumprimentava com um sonoro "Bom Dia!".

No início, não fez caso. Depois, passou a observá-lo com mais atenção, visto que, todos os dias se encontravam a caminho da estação Carioca, do Metrô.

Era alto, esguio, sorriso muito alegre, sempre trajava o mesmo tipo de terno muito limpo, só variando nas cores. Ela o achava simpático.

Passou a responder o cumprimento e viajarem juntos e sentia-se confortável junto daquele homem de maneiras e modos simples. Era como o caracterizava:"Um homem simples", no vestir, no perfume, no falar, no agir e acima de tudo, uma pessoa segura de sí sem arroubos para impressioná-la.

Belo dia, por acaso (?), na volta para casa, se encontraram. Ele levou-a até a porta de casa. Ela agradeceu a gentileza. Despediram-se e ele se foi.

Nina sentiu uma espécie de vazio quando Anselmo, este era seu nome, partiu.

As idas e vindas juntos passaram a acontecer com mais frequência, até que um dia Nina convidou Anselmo para jantar. Convite aceito de pronto!

Nina sabia pilotar um fogão como poucas e, em breve espaço de tempo aprontou dois apetitosos saduiches acompanhados de suco de laranja.

Anselmo além de faminto ficou impressionado com a destreza de Nina. Que supresa agradável!

Enquanto comiam, conversavam e, vez por outra, o sorriso alegre de Anselmo se fazia ouvir e era do inteiro agrado de Nina.

Foi uma noite deslumbrante. Para os dois.

Nina passou a gostar cada vez mais de Anselmo, pois ninguém nunca fora tão cavalheiro e atencioso como ele.

Certa vez, quando voltavam do trabalho, ele disse:"Hoje é o dia de voce jantar na minha casa". O convite aconteceu de surpresa. Nina ficou em dúvida. Sim ou não, pensava. Afinal ele parecia tão confiável.

Enquanto ela pensava, ele disse:"Sou ótimo cozinheiro. Num instante encomendo tudo no restaurante que há defronte da minha casa." E sorriu como sempre. Ela aceitou! Vou.

Mas vou depois de dar um tempo para preparar tudo.

Ótimo, disse Anselmo. Mas, não demore muito.

Nina colocou seu melhor vestido e se preparou com esmero. Aí, parou para pensar:"Qual a razão disso tudo se só vou jantar?" Mas continuou se embelezando.

Tratou daqueles cabelos castanhos, ondulados e lindos. Deu um trato naqueles olhos verdes que faziam Anselmo perder o fôlego.

Mulher bonita é mulher bonita e pronto!

Da Lapa subiu para Santa Teresa e foi a casa de Anselmo.

Lá chegando, foi recebida com todo carinho e notou que estava tudo preparadíssimo. O"maître" encomendou um jantar leve e bem variado, inclusive com vinho. Nina não usava bebida alcoólica. Bebida, só suco.

Mas, havia suco também.

Faziam a refeição na penumbra. Nina olhava Anselmo como nunca o havia olhado. Ele não estava de terno. Vestia apenas um blusão e uma bermuda. Estava à vontade em casa. Nina gostou de vê-lo assim.

Terminado o repasto, foram para a varanda de onde se descortinava belíssima vista do Rio de Janeiro. Lindo espetáculo! Céu claríssimo de lua cheia.

Sentados estavam na cadeira de balanço para dois. Ele alisou os lindos cabelos de Nina pela primeira vez. Ela recostou-se no seu ombro. Ele continuava a acariciar seus cabelos leve e suavemente.

Nina aceitava com naturalidade o carinho, como se fosse coisa antiga. Levou a mão ao rosto dele e beijou-lhe o queixo. Ele segurou o rosto dela e, com toda delicadeza, beijou-lhe os olhos.

Não se contiveram mais e suas bocas se buscaram, e um demorado e terno beijo que estava guardado por tato tempo, aconteceu.

Nina abriu os olhos e viu que Anselmo estava de olhos abertos enquanto a beijava.

Intrigada, perguntou-lhe:"Voce quando beija não fecha os olhos?"

Não, Nina, respondeu Anselmo. Só se fecha os olhos para sonhar. Não há razão para fechar os meus olhos quando te beijo, pois não preciso sonhar. Voce é a minha realidade, a mais bela realidade da minha vida.

Não vou perder o espetáculo maravilhoso de ver o meu amor me beijando.

Neste exato momento Nina sabia que havia sido conquistada e mais, que queria realmente ser conquistada.

Então os dois se beijaram longamente de olhos abertos. Um olhando ou outro. E continuam assim até hoje.

Duvidas? Pratique beijos de olhos abertos e verás a diferença.

De olhos fechados? Nem morto!

FARNEY MARTINS
Enviado por FARNEY MARTINS em 04/08/2009
Código do texto: T1736534
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