Isto é amor? - Relatos Masculinos

O clima entre nós já na andava bem. Nossa relação estava deteriorando-se lentamente. Os nossos sentimentos estavam confusos e eu já não suportava mais o ciúmes. Não podia ouvi-la dizer nada sobre o novo sócio do escritório. Sobre como ele era simpático, sobre sua juventude, beleza e determinação. E todos os dias ela falava do tal ser. Um Hércules moderno. E tinha o juiz que a cortejava no fórum.

Este resolveu até sair conosco certo final de semana.

O ar estava tão carregado que era possível corta-lo com uma espada. Enquanto ele a cortejava abertamente, eu me imaginava um nobre medieval, armado, querendo duelar por minha cortesã. Espada, florete, flecha e dardos, eis armado em frente ao janotinha, pronto para abatê-lo. Aquilo não era um “happy hour” e, sim um “hours unfortunate ”. Queria fulminá-lo com meu olhar, que aliás, ele nem notava.

Só não me ergui, deixando-os à sós, porque sabia que ela, apesar de aceitar a paquera, não estava a fim de encarar o juizinho de uma figa.. E eu lá, coração cortado.

Na verdade não entendia o que estava acontecendo comigo. Nestes anos todos e já são mais de sete, nunca me importei com quem ela queria sair.

Teve aquele administrador de empresas, moderno, descendente de europeu, com aquela fala mansa. Acho que saíram um ano juntos. Ou perto disto. Na época eu estava saindo com aquela modelo. Ela dizia que a tal tinha nome de cachorrinho de madame. Laica. Eu ria-me, claro.

Depois ela começou a namorar o promotor eu dizia que o tal parecia mais promotor de vendas de perfume barato. Cada dia um perfume mais forte que o outro. Ela literalmente ficou com alergia do homem. Ele, no final não entendia seus espirros. Era divertida demais a situação:”Oi – atchim – amor! Como –atchim- vai você -atchim?”

Eu embarquei nesta, espirrava quando ele chegava e saia. O namoro acabou. “Adeus -atchim- colega”!

As coisas foram complicando cada dia mais. Ela implicando com minhas paqueras e eu com os namoros dela. Alguns amigos começaram a maneirar nos convites para sairmos juntos. E os convites já não incluía mais nós dois. Quando um era convidado o outro não era. Geralmente os convites para sair se davam em cima da hora e assim não podíamos combinar de ir juntos. Questionados os amigos nos disseram que estávamos muito implicantes e o que antes era divertido, agora era desgastante, uma vez que nossas atitudes acabavam por minar o animo do grupo.

Acabamos por nos isolar um pouco mais, afinal gostávamos um da companhia do outro.

Então veio a gota d’água. Saímos só nós dois um certo dia e acabamos por encontrar uma antiga paquera minha, uma daquelas relações inconsequente. Então do meio do nada, ela pediu para irmos embora. Saímos. Ela com os olhos cheios de lágrimas e eu revoltado. Abrira mão de um jogo com os amigos e agora ela queria ir para casa. Na porta, como ressurgido do inferno, vimos um ex-namorado dela. Eu fiquei mais revoltado ainda. Ele se mostrou preocupado, ela passou por ele como um foguete e eu me desculpando, fui atrás dela.

E sabe Deus como começou. Brigamos o caminho de volta todo. Quase bato o carro. Deixei-a em casa chorando e fui pra casa, enfurecido.

Passamos o final de semana sem nos falar.

E uma semana também se passou no silêncio. Nenhum telefonema ou recado. Eu saia da empresa e ia direto para casa, evitando os amigos, para não ter notícia dela. Dormia mal e despertava com o sorriso dela no meio da noite. Na quinta-feira liguei para a casa dela e quando ouvi sua voz triste, desliguei sem falar nada.

Sábado os amigos ligaram obrigando-me a encontrá-los no Guarujá. Combinei de descer antes, para preparar a casa para recebê-los.

Dez horas da manhã chega ela, sem graça, disse que se perdera dos amigos, que desceram antes do horário combinado.

Estava magra, abatida, com o olhar cansado.

Tive um estalo! Eu amo esta mulher! Ela é a mulher da minha vida. E como lhe dizer isto?

Ela também tinha algo para me dizer. O escritório do Rio fizera um convite a ela pretendia aceitar.Estava nervosa, os amigos não chegavam. Liguei e eles disseram que já estavam chegando.

Ela voltou ao assunto de seguir para o Rio. Pedi que reconsiderasse a ideia. Que não se mudasse para o Rio. Disse-me que ligaria sempre, que não era por por causa de uma bobagem qualquer que iríamos quebrar um laço tão forte quanto nossa amizade.

Disse-lhe que não queria sua amizade. Ela assustou-se , novas lágrimas brilharam em seus olhos. Então, ali na varanda de casa, abri meu coração e declarei todo meu amor para ela.

Ela me olhava como se eu fosse um extraterrestre e, de repente, vi nascendo seu sorriso, como uma aurora na praia. Seus olhos sorriram junto e ela correu em minha direção.

Faz doze meses. E hoje nos casaremos.

Não perdi uma amiga, ganhei uma esposa.

Quanto aos amigos... Estavam no Guarujá sim, hospedados em hotel. Eles descobriram que nos amavam antes de nós e inventaram o tal fim de semana na praia com objetivo óbvio.

Elis

Elisabeth Lorena Alves
Enviado por Elisabeth Lorena Alves em 14/08/2009
Reeditado em 06/03/2016
Código do texto: T1753706
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