Acasos

- Querido, eu preciso lhe dizer...

Não precisa dizer nada. Eu consigo traduzir seu olhar. E sei que ele me manda embora.

Só gostaria do som metálico das cordas de meu violão agora. E com ele, afastar todos estes pensamentos e sentimentos. A rua nunca me pareceu tão quieta, tão morta. E estas lágrimas malditas que rolam por meu rosto, encharcando-o. Sentimentos estúpidos.

- Não é você, sou eu.

Claro, é você mesmo. Fez nascer em mim este parvo sentimento. Essa coisa idiota que me consumiu a cada minuto, por você, a cada instante. A culpa é sua mesmo.

Miserável coração, seja forte. Continue batendo. Não me traia você também. Não você... É a única coisa que me restou. Mas parece estar dilacerando, corrompendo, desaparecendo...

- Gosto muito de você ainda!

É, eu imagino. Deve ser engraçado me submeter a esta destruição e tentar se passar por gentil.

Soluço detestável, não me denuncie. Não enquanto não chegar a minha casa, cair em minha cama. Se pudesse, eu escolheria não sair de lá. Abrigar-me para o resto da vida. Esconder de todos, de tudo, de mim, especialmente.

Como é funesto este mundo que se atreve a te revelar quando quer mesmo é desaparecer. As ruas ainda pareciam tão vazias, como minha alma tem sido por estes dias. E o tempo parecia eterno dentro de meses tão gelados.

- Oh, perdão!

Um embate leve, desajeitado. Um rosto arredondado. Um olhar enternecedor.

- A culpa foi minha...

Seus olhos se prenderam aos meus e mesmo percebendo o rubor em sua face não pude deixá-los.

- P-parece que a cul... Desculpe-me.

Não precisei completar, seus olhos me responderam, suavemente acompanhado de um breve sorriso. Tão tímido que pareceu me fazer corar também. Eu a acompanhei com os olhos. E aquele trajeto perfiz por muitas outras vezes, procurando-a até o dia em que aqueles passos acompanhei.

Caminhar silencioso, tal como eu admirava. Nenhuma palavra. Nenhum ruído. Apenas meu coração, antes destruído, agora renovado. Como pode ser capaz apenas uma presença fazer-me tão bem. Aqueles olhos. Quantas verdades. Quanto de mim. Eu ouvia seu caminhar ecoar junto ao meu, mas eu não sabia decifrar as batidas do meu peito.

Do meu violão agora eu queria uma pequena melodia feliz, para evitar que ela se perdesse na multidão. A tarde logo acabou. Entretanto, meu tempo não morreu.

- Obrigada.

Eu quem deveria agradecer. E outras vezes a visitei. E aquela moça, minha pequena moça, por ela me apaixonei. Aqueles estúpidos sentimentos de antes, foram apenas para me mostrar o caminho destas emoções de agora. Sinceras. Verdadeiras. Eternas em seu tempo.

Viajante Ls
Enviado por Viajante Ls em 03/01/2010
Reeditado em 22/05/2011
Código do texto: T2008246
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