VINTE E SETE MINUTOS... (Parte I)

A viagem de trem, embora não demorasse mais de duas horas, parecia lenta e monótona. Nem a paisagem com as flores coloridas que via pela janela chamavam sua atenção.

Olhou novamente para o relógio que insistia em marcar as horas em um ritmo lento e egoísta... Faltavam ainda intermináveis vinte e sete minutos que a separavam daquele que seria o encontro mais aguardado de sua vida.

Decidiu ler um livro de poesias que havia deixado no banco vazio, ao seu lado, ocupando o lugar de um amigo ou confidente. Entretanto, ela não conseguiu se concentrar e ler um único verso.

Olhou a sua volta para se distrair, foi quando percebeu que um homem a observava insistente, em outra ocasião, o teria achado interessante e atraente, apesar dos óculos escuros, que escondiam seu olhar.

O tempo havia parado, nos vinte e sete minutos; como se os ponteiros do relógio tirassem férias. Lembrou-se, então, do dia em que se conheceram sentiu saudades da troca apaixonada de olhares, das conversas e dos poucos encontros que tiveram.

Sem oportunidade para mais envolvimentos, nenhuma foto ou beijo de despedida, cada um seguiu sua vida, ela cuidando de sua família, ele viajou a trabalho para outro país...

O barulho do trem ao chegar a seu destino a fez voltar à realidade. Enquanto procurava seu amor na estação, o passageiro desconhecido a chamou pelo nome, trazendo em uma de suas mãos o livro que ela havia esquecido. Ao se aproximar ele tirou os óculos, abraçaram-se...