P U N I Ç Õ E S

P U N I Ç Õ E S

Confesso que, inocentemente, mas em consenso com o livre e pleno arbítrio, Rudinei cometeu erros na vida pelos quais puniu-se amargamente. Talvez fosse a não observação dos retrógradas/cruéis parâmetros/exemplos que urdem os preâmbulos do erro humano ... se o soube, nem a si o confessaria. Mas essas punições que se auto infringiu custaram-lhe longos anos de sofrimento, pagando caro pela maneira errônea de entender a vida espiritual humana neste plano terreno.

Rudinei aposentou-se. Porém, como ainda sentisse capacidade laborativa em suas forças e, por ser a preguiça não ser seu ponto forte, trabalhou em diversas atividades que não preencheram seu modo de ser e agir.

Nos intervalos do seu tempo livre ele escrevia. Gostava de escrever. Já vinha desde menino esse gosto pela literatura. Como nenhum dos empreendimentos adotados para reforçar seu orçamento doméstico – já que sua aposentadoria não era lá essas coisas, pois rendia-lhe nem o suficiente para que o considerasse sequer satisfatório – chegou o dia em que se dedicou somente àquilo que realmente lhe dava prazer – escrever.

Sem que muito entendesse de internet, mas que um amigo disse-lhe ter grande valia para suas pesquisas, descobriu, numa destas ocasiões, ao “pescar” informações, descobriu um lago piscoso, onde outros escritores soltavam seus alevinos, para colher comentários dos grandes peixes.

Ainda que se considerasse entre os mais ínfimos dos peixinhos que nadavam naquele lago, chamado Recanto das Letras, punindo-se mais uma vez pela sua qualidade inferir, conquistou a atenção de alguns leitores(as), que incentivaram Rudinei a escrever sempre mais ... e melhor.

Uma das punições a que se impunha é o cruel engodo de que, uma vez, terminado o ciclo de um casamento de longas décadas de duração, o ser humano deveria recolher-se à sua viuvez e sentir sua felicidade somente em companhia de seus familiares e amigos. Em suma – descartou o convívio com nova companhia feminina. Mas, passados alguns anos, sentiu o peso enorme que a solidão lhe impunha, pois seus filhos cresceram e cada qual assumiu um novo ciclo de vida adulta.

Assim ele passou longos anos de solidão, tendo por companheira a cuia de chimarrão e a garrafa térmica com água quente, dias e noites a fio. Minto, Rudinei tinha outra companhia que o viciou – o computador. Nele elaborava seus poemas, seus contos e suas crônicas e, até, criou alguns romances. Mas tudo isso se tornou enfadonho, chegando, por vezes, a ficar dias e dias sem escrever. Porém, naqueles dias, nada tendo a fazer que lhe preenchesse o gosto, seu desespero chegou às raias da loucura.

Como esse homem tinha propensão de dialogar com o sexo oposto, passou a especializar-se na poesia romântica. Com ela pensava conquistar o público romântico por sua própria essência – a feminilidade. E realmente isso aconteceu. Aos poucos, por essa curiosidade comentada a meia boca, a fama de seus versos ganhou esse público – as poetisas do recanto.

Segue, então, que uma dessas leitoras, certamente também oprimida pelo mesmo peso e/ou, simplesmente, porque se identificou em alguns dos temas propostos, sentiu a necessidade de dialogar com esse poeta. De início, uma teclada no msn. Depois alguns e-mail’s foram trocados, tímidos, sem evidenciarem seus verdadeiros propósitos. Nesse ínterim, novas sondagens quanto à idade, trocas de comentários, gostos, filosofia de vida e tudo o mais que envolve os preâmbulos de um namoro. E, graças aos satélites pendurados no fio invisível da estratosfera, produziu-se esse namoro virtual. Foram trocadas frases sem sentido, outras com sentido perfeito; falou-se do sol e do vento, da chuva e do frio intenso. E quanto mais os diálogos aprofundavam-se, sempre com o respeito devido à delicada e sensível feminilidade e de duas almas que se perderam e se buscam desde o encontro dos corpos em outras encarnações, de inopino, surgiu na tela em que ambos teclavam, uma frase meiga, honesta e sincera: – “eu te amo”.

A partir desse instante houve juras recíprocas. A necessidade de “ver-se” diariamente. A troca de e-mail’s durante o dia, nas folgas do serviço e tudo o mais que faz um casal de adolescentes quando toca o sininho do amor. Mais recentemente houve a visita. Conheceram-se pessoalmente, fora da virtualidade ... e vivem feliiizessss, enquanto dure esse doce e real amor.

Afonso Martini
Enviado por Afonso Martini em 06/08/2010
Reeditado em 07/08/2010
Código do texto: T2422801
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.