1 + 1 - EPISÓDIO I
I
“Eu odeio Matemática.”
Ele pensou em ler em voz alta o bilhete que encontrou dentro de sua caixa de giz customizada. Mas, pensando melhor, reclamar a autoria de uma travessura é como passar graxa na sola dos próprios sapatos e, em seguida, tentar subir uma ladeira de paralelepípedos molhada, rumo ao travessureiro. Haja Gelol®.
“Não...” – O que Hercule Poirot* faria se encontrasse um desses?
Já em sua casa bem decorada, antes de aliviar-se para dormir, analisou a caligrafia. Mesmo se tratando de uma letra bonita, a firmeza com que a frase foi cunhada revelava um pulso masculino. Isso o deixou excitado.
Abaixou sua Calvin Klein® e começou a debulhar-se enquanto com a outra mão segurava o bilhete na altura dos olhos. Quando estava quase a chegar, aproximou-o do nariz e, entre espasmos selvagens, aspirou profundamente o pedaço de papel. O perfume foi tão perturbador que o fez sujar, muito, seu lençol preto e limpo.
Já mais calmo, concluiu que tinha duas pistas interessantes: o traço e o perfume. Nem mais fácil, nem menos difícil:
“Vai ser mais divertido do que se pode imaginar...”
Como de costume, entrou na sala sem cumprimentar os alunos. Deixou seu material sobre a mesa e dirigiu-se ao quadro negro. Enquanto escrevia, tinha que se controlar para conter o riso. A excitação não, pelo contrário, coçava as partes baixas durante o passear do giz vermelho, como cócegas na lousa:
VOCÊ VAI AMAR
Entoando o clássico “onde foi que paramos aula passada?” sentou-se, ao som de dezenas de queixos marmanjos que tilintavam caídos no chão.
continua...
(*detetive criado por Agatha Christie)